Amar ou Te Matar... Eis a Questão! (2) - 13

Um conto erótico de A. Aldbretch/Bernardo D.V
Categoria: Homossexual
Contém 5189 palavras
Data: 24/01/2013 01:21:07

No meu espelho, ajeitava o chapéu preto com um véu negro descia até a altura do joelho (só depois de dois anos de luto eu poderia cortá-los a altura dos ombros) enquanto colocava as luvas... Era simplesmente preto o que eu vestia: desde a minhas meias, sapatos, roupas de baixo, gibão, em fim tudo preto e sem nenhum enfeite a não ser hediondos broches de ônix. Ser viúvo era como ser obrigado a me matar junto com a parva da Camila que resolveu morrer no parto de Fabrizio. Não poderia sair, nem conversar com as pessoas, não poderia receber visitas, nem vestir roupas com cores por um enorme tempo, não poderia usar jóias de qualquer espécie, e nem ir ao teatro ou jogar carteado com outros. Eu estava quase a ser enterrado.

Por exemplo, um dia em que eu brincava em um balanço do jardim enquanto um guarda me empurrava, rindo a todo pulmões, mamãe me olhou chocada pela janela e correu erguendo a saia do vestido mostrando as meias e as pernas grossinhas (coisas que ela NUNCA fazia) correndo em minha direção. Ela me repreendeu com suavidade dizendo que um viúvo nunca deveria se portar daquela maneira e sim mais sério, grave e recatado do que quando era casado. “E Deus sabe com é enfadonha a vida de um casado." pensei comigo mesmo, enquanto ela ainda dizia que se eu fosse esboçar um sorriso ele deveria ser triste, quase trágico. Se antes os meus prazeres da vida de recente solteiro haviam finalmente cessado por completo, por que aparentemente eu tenho a vocação de ser viúvo.

Tirei aquela aberração da minha cabeça com raiva, pegando um outro que era roxo com vermelho, com penas de águia, incluindo um passarinho verde empalhado que abria as asas. Tão bonito! E observava-me no espelho vendo a minha aparência de corvo sendo amenizada por aquela belezinha. Lorena observava-me chocada pelo o reflexo do espelho.

— Monsieur Louis! – ela disse boquiaberta.

— Pouco importo-me! Sou jovem demais para ser viúvo! – falei. – Por que sair por aí assustando todos com essa coisa feia? - apontei para o chapéu preto.

— Não deve visitar as pessoas. Monsieur está de luto. – ela disse tirando-o da minha cabeça. Ouvi a voz dos meus pais se aproximando e por fim disse em um tom um pouco mais alto.

— Por quê? Eu nem sinto nada! Eu odeio ter que ficar fingindo e fingindo! – cai na cama de bruços começando a chorar.

— O quê foi? – ouvi a voz de mama.

— O que aconteceu ao nosso filho, Lorena? – era a voz de papa, os dois se postando ao meu lado. – Oh meu bem...

—A minha vida acabou. Nunca mais vai acontecer-me nada! Sabe papa e mama... – disse me levantando da cama tentando limpar o rosto. – Eu sei que pode parecer completamente horrível o que irei dizer, mas eu odeio sair por aí de luto! Já é tão ruim não poder ir as festas, e ainda sou obrigado a me vestir dessa maneira?!

— Oh meu amor... Papa está aqui... – ele disse me abraçando e embalando como se fosse uma criança.

— Meu bem, é natural tu querer parecer jovem, sendo jovem, já que és tão jovem. – falou mama alisando os meus cabelos.

— O que iremos fazer Anne? – perguntou papa. – Não quero vê-lo assim! O pobrezinho está sofrendo tanto... Corta-me o coração ao ver o meu filhinho chorar.

— Infelizmente não podemos levar ele para França... – ela disse ainda me acariciando. – Será que podemos fazer algo? Quem sabe uma temporada em Veneza?

— Não! Eu não quero ir para Veneza! – falei.

— E que tal se papa te dar um presente? Um gatinho vindo do Oriente, talvez? – ele me olhou agora esperançoso. Papa tinha cabelos castanhos cor de mogno, e olhos verdes, muito bonito, mesmo quando as pequenas rugas de expressão surgiam quando sorria.

— E o que diabos eu faria com um gato papa? Ninguém aqui se importa comigo... Todos vocês agem como se eu fosse um grande nada! – falei, forçando as lágrimas.

— Não chore Louis... E que tal se ajudares Alice a organizar o baile? Ouvir dizer que é para a caridade. E assim poderia sair! – disse mama. Ela era loira, e extremamente linda, e ainda era mais alta que papai e mais jovem.

— Alice? Baile?... Ah mama e papa, os senhores são os melhores pais que alguém poderia ter... – sorri.

— Por isso não chore... Sempre sorria! És um príncipe agora... E francês... Não se esqueça que tem o sangue nobre e francês dos Saint-Clair em suas veias. – falou ele. – Iremos partir hoje a noite.

— Tão cedo assim? – Perguntei.

— Sim meu amor... Teremos de partir, afinal essa não é a nossa casa. – ele falou beijando a minha testa.

—Tudo bem então... – falei.

Os dois me abraçaram e saíram do quarto, e Lorena me encarou chocada.

— Um baile hãn... – pensei comigo mesmo.

— Que coisa feia! Manipulando os próprios pais!!! – ela me acusou. – Veneza iria ser melhor para tu... Vai arranjar encrenca nesse baile.

— Não sei de que encrenca estás falando. – disse fingindo-me de desentendido.

— Sabe sim, sabe muito bem a encrenca que estou falando! Estava falando do Signore Lorenzo, ele estará lá nesse baile... Tu vai ficar esperar esperando ele lá feito uma aranha peçonhenta pronta para atacar! – ela falou.

— Isso é para uma boa causa. – disse.

— E desde quando correr atrás de macho é uma boa causa? Ou será que a única causa é o monsieur mesmo?! – ela falou.

— PARE DE AMOLAR-ME! – gritei, e ela balançou a cabeça com os olhinhos estreitos e saiu.

Sentei-me na penteadeira, e pensei bem no Enzo. Aquele parvo metido a imbecil dizia que eu era louco por ele. E a parte ruim disso tudo era que ele tinha toda a razão. Eu era completamente maluco por ele, sentia tanto amor, atração e desejo que o odiava. Lorenzo era um tremendo filho da mãe, toda hora dando aquele sorriso recheado de malícia e segundas intenções. Mas me casei, não por amor (e desde quando sou capaz de amar uma velha decrépita?), e sim pelo o dinheiro. Olhei em minha volta vendo o meu quarto. Móveis de primeira qualidade, em um lindo palacete.

E as jóias então? Diamantes e ouro todos delicadamente trabalhado pelo o ourives da família... Que infelizmente estavam trancadas no cofre já que a outra resolveu morrer. A primeira coisa que eu fiz quando me casei foi encomendar um novo guarda roupa onde tudo foi confeccionado com veludo alemão, seda chinesa, e tafetá italiano... Que infelizmente tive que doar tudo para usar preto. PRETO!!!. E os sapatos então? Um mais bonito que o outro, esses pelo menos ainda sobraram junto com alguns chapéus (que contrabandeei ilegalmente. Dane-se a honestidade se é para uma boa causa). Apesar do luto, tinha admitir que melhorei bastante.

De duque falido que trabalhava na feira, a um príncipe viúvo, mas ainda príncipe e RICO. Se sentia dor por isso? Ah sim, sentia. A pior parte foi na lua de mel, que digamos assim, foi bastante... Constrangedora, afinal eu tinha de cumprir o meu papel de marido. Nada comparado com Cecília, já que eu e ela tínhamos a mesma idade quando nos casamos e foi muito, mas muito satisfatória. E mesmo ODIANDO a ideia inicialmente de ser pai de novo aos 20, acabei por me contentar ao ganhar um filho (herdou os cabelos e olhos azuis-acinzentados de Camila), belo que nem eu (óbvio, de quem mais seria?). Mas pelo o dinheiro e pelo o medo de ser pobre miserável, fiz isso e faria de novo.

O poder que eu ganhei era incrível, e se tornou rapidamente um tipo de músculo invisível: ele pulsa, tem força, e repercussão que eu não tinha. O que eu queria era meu em um estalar de dedos, e o que eu detestava era rapidamente eliminado da minha frente. Minha palavra era lei, e todos os que odiavam-me eram obrigados a calar a boca e se reverenciar. E era nesse baile que iria, e iria dançar, dançar... Dançar até os meus pés doerem. E é claro, ver aquele bonitão, desgraçado e cretino do Enzo. Quem seria tolo de me proibir?Enquanto isso Alice estava radiante com o baile para a caridade e me pediu para ajuda-la. Como já tinha influência com a maioria dos ricos florentinos, consegui que uns bons números de pessoas comparecessem. No geral, apesar de ser muito fechado a tais coisas como bailes e festas, eu queria comemorar... Com Louis viúvo, os caminhos para nós dois se abriram mais uma vez, e junto com elas a oportunidade de sermos felizes.

Mas o boato em geral era um só: Louis fora responsável pela morte de Camila. Afinal ele a matou, engravidando-a sendo que ela era um pouco avançada na idade para a gestação. E que por "obra" do destina ela morre e ele herda tudo. Isso era completamente ridículo ao meu ponto de vista. O coitadinho não teve culpa de absolutamente nada...

Eu o conhecia muito bem para saber que ele jamais faria isso. No fundo, lá no fundo... Eu digo bem no fundo mesmo, no profundo, ele era uma pessoa boa e cheio de qualidades... Apenas não demonstrava isso, e poucas pessoas o compreendiam como eu, e Alice. Por incrível que pareça, justamente aquela com que Louis detestava, tinha admiração e afeto por ele. Alice era uma garota gentil e meiga, uma dama de verdade... Simplesmente adorava Louis e o defendia dos comentários maldosos dos outros.

Na noite do bazar, no salão de baile do Signore Rafael a animação era contagiante. Todos dançavam alegremente, compravam nas pequenas tendas montadas, e conversavam alegremente. Alice estava vestida com elegância mas, modestamente. Eu e ela havíamos tornados bons amigos... E ela aparentemente havia também me perdoado por ter desfeito o noivado e eu juro que de vez em quando dava a entender que ela sabia do meu envolvimento emocional com Louis, mesmo nunca ter demonstrado nada em relação à ele.

-- E como vai a sua... "Amada"? - ela perguntou me olhando com um sorriso no rosto enquanto dobrava uma muda de roupa,

-- Ah bem... Ela... Creio que vai bem. - disse.

-- Que bom Signore Lorenzo. E vão se casar? - ela disse.

-- Sabe que... Sinceramente eu não sei... - falei sincero.

-- Se tu a amas... E ela também... Qual é o empecilho? - ela olhou-me.

-- Muitas coisas... - disse.

-- Espero que se deem bem... Ela é uma senhorita de sorte. - ela sorriu.

-- Ah Meu Deus, Meu Deus! Estão todos estão comentando, e sei que é a respeito dele... Um viúvo sair em público, e em um evento social... Ahhhh mas eu acho que vou desmaiar... - disse a velha Petúnia, abanando o leque. Era uma senhora baixa, corpulenta e gorda porém espremida pelo espartilho fazendo a gordura ficar comprimida para cima. Fofoqueira e terrivelmente linguaruda, achava que deveria meter o bedelho em tudo... Olhei para onde ela olhava e vi Louis, todo de preto escorado em uma bancada que vendia doces.

-- Mas tia Petúnia, sabe muito bem que príncipe Louis veio aqui só para ajudar a causa! Foi tão lindo ele ter feito esse sacrifício... - ela sorriu bondosa - Alguém que ouça a senhora falar assim vai pensar que ele veio aqui dançar em vez de ajudar os pobres e os famintos.

Tive que naquele momento comprimir a risada. Louis embora trajando de preto da cabeça aos pés, escorado naquela bancada, sapateava em um ritmo animado quicando de um lado para o outro embora o rosto demonstra-se... Tédio, vendo os casais dançando belamente em sua frente. Sim... Ele veio dançar em vez de ajudar os pobres e os famintos. Com cuidado me aproximei dele...

-- Olá sua alteza... - me reverenciei.

Ele me olhou espantado e depois sorriu.

-- Lorenzo Di Montefiore. Que surpresa agradável a te ver. - ele disse.

-- Soube da notícia de sua pobre esposa... Que o Senhor a tenha. - falei prestativo.

-- Érh... Bem, obrigado pela a sua prestabilidade. - ele disse.

-- E como está indo o luto?

-- Terrível, estou me sentindo tão triste... Os outros me dizem que eu deveria me postar mais alegre, mas prefiro manter o preto em honra a Camila. - ele disse fingindo tristeza.

-- Minhas condolências. - toquei na mão dele. – Com todo o respeito Louis, tu não se cansa de se casar com quem não ama e ficar viúvo?

-- O que eu faço ou deixo de fazer é da minha conta, e se isso fosse verdade tu já estaria em uma cova... – ele disse rindo cheio de malicia.

-- Eu encaro o risco. – ri.

-- Veja só! Como aquelas vestes me ficariam bem - disse o fedelho louco de inveja, olhando para Mariano Teschinni que vestia um gibão verde-maçã enquanto olhava abobado para a garota com que ele segurava a mão - Deixaria os meus olhos mais bonitos e verdes e por céus... Mariano tem a cintura de um boi...

Dessa vez me vi obrigado a soltar uma gargalhada.

-- Tantas vestes bonitas e eu aqui... Parecendo um corvo de cemitério. - ele choramingou.

-- Não para tanto... - menti. Na verdade ele estava parecendo um corvo mesmo.

-- E eu ficaria grato se tu Ézio Auditore tivesse a decência de parar de me encarar. Por acaso meu rosto ficou azul? - continuou Louis, olhando para o outro lado.

-- Eu só estou olhando essa sua cara cínica. - ele disse se aproximando. Ézio Auditore era um nobre de vinte e poucos anos, que em determinada época era um pretende apaixonado de Cecília embora ela estivesse engatada comigo, e que por infelicidade do destino era candidato a se casar com Camila.

-- Com todo o respeito Signore... Não vê que ele está de luto? - eu falei educadamente, embora ficasse com raiva por ele ter chamado o meu fedelho de cínico. Só eu posso o chamar de cínico.

-- Deixe-o falar o que quiser. Eu não tenho culpa se ele tenha ódio de mim por ter me casado com Cecília e Camila, embora ele é hipócrita demais para admitir que não conseguiu conquistá-las. - disparou Louis.

-- Eu te ODEIO sim! Sempre fez o que pode para diminuir o prestígio gente decente e honesta só para conseguir os seus objetivos. - ele disse.

-- Fiz sim. Muito ao contrário de tu e os outros que só ficam parados feito um bando de trouxas, que só ficam se remoendo de ódio e rancor a mim. - o fedelho rebateu.

-- Fez tanto que foi responsável pela morte da própria esposa. - Ézio disse. - Aposto que ele se alegrou o bastante quando ela morreu dando a luz um filho dele.

-- JÁ CHEGA!!! - disse enfurecido agarrando Ézio pela gola de sua roupa - VAI PEDIR DESCULPAS AGORA A ELE... POR QUE SE NÃO EU FAREI-TE ENGOLIR SEUS DENTES.

Ézio com medo de minha atitude, murmurou um pequeno "mi perdoni" e saiu cambaleante. Voltei os meus olhos para ele, vendo brotar lágrimas nos olhos verdes.

-- Louis... - eu disse.

-- Eu vou ter... Que ir... Uma boa noite para tu Lorenzo. - ele disse saindo da banca. - Diga a Alice que estou indisposto.

Ele foi embora sem que os outros se derem contas que ele estava aos prantos. Sentia muita raiva de Ézio por ele ter falado aquelas palavras ridículas com ele... O fedelho estava obviamente se sentindo meio culpado pela a morte dela (embora não demonstrasse), e ainda ouvir aquelas baixarias... Eu queria ter abraçado ele, beijando a testa dele e dizer que tudo ficaria bem, por que eu estaria lá para o que der e vier.

Mas em fim decidi agir. No dia seguinte iria até a casa dele e o levaria comigo nem que seja a força, arrastado pelo os cabelos e amarrado... Estava na hora de parar de joguinhos e outras coisas. Louis era meu, e eu dele, e isso ninguém poderia mudar ou desfazer... Era a hora de eu agir como homem e trazer ele e os nossos filhos (o dele também é claro, e por isso o teria como meu também), nem que seja a força. Olhei a minha aliança em meu dedo e assim constatei: Era hora de parar de perder tempo e nos "casarmos"Era chegado o momento. Depois de quase um ano de enrolações, encontros e desencontros, finalmente ficaria com ele. Mesmo se ele dissesse não, arrastaria ele pelos pés e o levaria comigo. De manhã cedo, peguei o meu cavalo e me dirigi a casa dele... Bati na porta e Lorena me atendeu.

-- Signore Lorenzo.

-- Olá donna Lorena... O Louis ele está? - perguntei.

-- Está sim Signor... Mas... Creio que ele não irá recebê-lo. - ela falou.

-- Por quê?

-- Trancou-se no quarto e disse que não quer ver ninguém. - ela disse dando os ombros.

-- Pois diga a ele que eu o quero ver... E se ele não descer eu mesmo arrombo a porta do quarto. Ele sabe muito bem que sou capaz disso. - falei.

-- Sim Signor. - ela falou e subiu as escadas. Pouco tempo depois, Louis desse ainda de preto com os olhos vermelhos, com as bochechas rosadas e olheiras. Não sorria, apenas estava suportando o choro. Quando ele chegou ele me deu a mão e a beijei, mas sentindo um cheiro muito estranho. De flores com... Bebida.

-- Não adiantou de nada o perfume Louis. - falei respirando fundo.

-- Do que é que está falando? - ele fingiu.

-- Que tu bebeste conhaque e muito, e gargarejou perfume para disfarçar o hálito. - disse sentindo o cheiro do álcool.

-- Se eu bebi ou deixo de beber isto não é de sua conta monsieur. - ele disse indo para a biblioteca ao lado. O segui fechando as portas com cuidado.

-- Se quiser beber, beba com alguém, por que se alguém souber que o príncipe se embebeda aí será um escândalo. - disse.

Louis se jogou em uma poltrona e desatou a chorar como uma criança profundamente magoada.

-- Oras o que foi? - perguntei.

-- Tu tinhas razãããão... - ele dizia com o rosto vermelho e as lágrimas escorrendo. - Eu não deveria ter me ca-casado com Camila... Eu a matei! Eu a fiz a ter a criança e a culpa foi toda minha. Eu a matei. Oh Enzo! Pela a primeira vez eu descubro o que é me arrepender de uma coisa que tenha feito.

-- Não diga absurdos... Tu é que nem uma criança que morde com força os outros e corre para assoprar. Se tivesse a oportunidade faria de novo, se casaria de novo só para se elevar socialmente... - disse entregando um lencinho para ele.

-- Eu estou com tanto me-medo En-Enzo. - ele disse choroso pegando o lencinho.

-- Medo de quê?

-- Medo de ir para o infernoooo... - ele abaixou a cabeça.

-- Humm, mas que isso, tu nunca sentiu medo... E quem sabe o inferno nem existe! Longe de mim questionar os ensinamentos da infância - falei tocando a cabeça dele.

-- Existe sim! Eu acredito nele e é para lá que eu vou por s-ser tão malllllll... - ele balbuciou.

-- Sabe Louis, eu acho que tu vai ter um ataque de choro.

Ele se levantou cambaleante e chorando muito encostando-se em uma coluna. E o segui.

-- Então irei dizer logo o que eu quero. - disse.

-- Tu-tudo bem, diga logo e saia daqui... O que é? - ele me olhou.

-- Eu não posso mais viver sem ti Louis. - falei.

-- És muito gentil vir aqui e dizer essas gracinhas e...

-- Eu descobri a muito tempo que tu és a única pessoa certa para mim - falei. - Mas agora que tu és rico, e temos uma filha juntos, vou ter que me "casar" contigo.

-- Oras eu nunca tinha visto tanto mal gosto! - ele fez uma careta.

-- Ficaria mais convencido se eu me ajoelhasse aos teus pés? - falei me ajoelhando segurando a mãozinha dele.

-- Vai embora seu verme e tire as suas mãos de mim! - ele disse apático.

-- Perdoe-me meu amado por todo o sofrimento que lhe infligi ao te atirar na miséria, para sentir fome e frio e o ter feito trabalhar como um escravo, mas há algum tempo, mais precisamente três anos e oito meses, brotou um sentimento puro, mais nobre, mais sagrado e importante que tenho por tu. Toda vez que eu te vejo sinto vontade de beijá-lo, abraça-lo e te cuidar e proteger com todo o meu amor. E se eu for atrevido demais, posso propor-lhe que sejamos "casados"?

-- Não fique aí parado, sabe que odeio essas suas piadinhas vulgares.

-- Esta é uma honrada proposta de que faço a tu, Louis, no que eu considero como o momento certo. - falei me levantando. - Não vou ficar esperando-te entre um casamento e outro.

-- Tu é grosseiro, atrevido e convencido. Esta conversa esta longe demais. E além do mais nunca quero ficar com ninguém. - ele saiu de perto e eu fui atrás dele.

-- Ah mas vai sim e vai ser comigo! - disse.

-- Tu? Tu? Eu não te quero mais. - ele falou virando o rostinho. - E também eu não quero mais ser “casado”. Casamento é o verdadeiro sacrilégio.

-- Já pensou em se casar por amor e diversão? – falei.

-- Diversão?! Tolices... Diversão em casamento só quando os maridos vão para cama com prostitutas, ai sim tens diversão em casamento. – ele disse fazendo beicinho.

-- Eu garanto que nunca vou fazer isso! – estendi a mão no coração, em tom de juramento.

-- Tu é um tolo, Lorenzo... Acha que acredito em suas historinhas? – ele bufou.

-- Chega Louis, pare com isso... Eu vou te mostrar o por que deve ficar comigo - disse o abraçando com força e o beijando. Tinha gosto de conhaque e menta, mas mesmo assim o envolvi com os meus braços, fazendo o corpo dele se juntar ao meu colando os dois em uma sincronia mais que perfeita.

-- Enzo, pare... Eu acho que irei desmaiar... - ele disse pálido.

-- Desmaie... É para isso que foste feito, para desmaiar quando alguém te beija desse jeito, um alguém como eu, macho de verdade e o suficiente para te fazer feliz,e te tratar como merece, com respeito e dignidade já que és um homem único... Diga que sim, aceite ficar comigo. - falei acariciando ele.

-- O-Ou-Oui! - ele disse confuso, e depois fechou os olhos e fez beicinho.

Eu encostei os meus lábios nos dele e depois os separei.

-- Espere! Disseste sim mesmo? Não vai voltar atrás? - segurei o rosto dele.

-- Non! - ele voltou a fazer beicinho para ser beijado.

-- Está mesmo disposto a deixar tudo para ficar comigo? - perguntei.

-- Sim... Eu estou se quiser saber... Essa vida ingrata que eu levo, não é nada como eu imaginei. Onde todos falam o que eu devo ou não fazer. Quero ficar sim contigo e que leve-me para bem longe daqui. - ele falou irritadiço.

-- Finalmente! - falei. - Vamos embora daqui... Deixar tudo para trás...

-- Nem tudo por favor... - ele sorrindo. - Aquele cofre tem diamantes tão...

-- Tu disse “sim” por causa do meu dinheiro? – indaguei.

-- Sim... em parte. – ele secou as lágrimas.

-- Em parte? – falei.

-- Ah sabe Enzo, dinheiro ajuda e muito, e claro que eu te amo... E se dissesse que seria somente pelo o amor em si, saberia que estava mentindo e sempre disseste que tínhamos muito em comum, hã...

-- Tudo bem, eu já tinha consciência de tudo isso... E pra comprovar o que eu digo te darei o quiseres, é só pedir. - disse.

-- Eu quero um diadema de diamantes e dos diamantes grandes, Enzo!

-- Terás o diadema mais espalhafatoso e vulgar que a região já viu. - falei rindo. - Dentro de alguns dias iremos fugir secretamenteAi que maravilha!!! E quero roupas, sapatos e montaria nova também! – ele pulou de alegria.

-- Bem, já que é assim, tenha uma boa tarde meu amor... - tirei o chapéu.

-- Não vai me dar um beijo de despedida? - ele perguntou.

-- Não acha que foi muito beijado por uma tarde? - respondi brincalhão.

-- Tu é impossível, pode ir e pouco me importo se irás voltar! - ele disse ríspido.

-- Eu irei voltar... Disso pode ter certeza. - dei uma última olhada a ele e saiDentro de dois dias eu e Louis havíamos nos aproximado mais e mais (e dei sim o diadema, com pedras de diamante lapidado tão graúdas como um besouro gordo e Louis achou terrivelmente brega, jogando-a no cofre), chegando ao cúmulo de hospedar-me secretamente no palacete dele só para dormimos juntos. Conheci o filhinho dele que logo se afeiçoou por mim e eu por ele... Era um bebezinho chamado Fabrizio, de cabelos castanhos e olhos azuis-acinzentados, e tinha um olhar muito meigo. Isabella logo que soube do meio-irmão, também adorou ele e dando vários beijinhos nas bochechas. Eu e o fedelho nos olhamos cheio de conspirações quando nós vemos isso, logo após soltar uma gargalhada.

Planejamos por fim realizar a nossa fuga para o castelo na Alemanha em uma data onde haveria um festival de musica e dança, assim embarcaríamos para a França e depois chegar na região da Baviera, com os nossos dois filhos. Enquanto eu trocava de roupa nos aposentos, Louis estava estirado na cama vestindo apenas as roupas de baixo. Ele me falava algo sobre móveis de carvalho e ébano para mobiliar o castelo e sobre como os de pinho eram horríveis. Embora soubesse pouco sobre isso, deixava ele falar a vontade, contentado-me em responder "mesmo?", "concordo plenamente" e "falai-me mais sobre isto".

-- Como disse, é inadmissível... O quê é isto... ? - ele disse enquanto eu estava de costas para ele.

-- Hã? - me virei para ele. Louis segurava a espada Meo Immortalis Dielectus. Mesmo depois de anos a lâmina inutilizada continuava extremamente afiada.

-- Guardar-te durante todo esse tempo? - ele disse com um sorriso doce.

-- Sim... Se queres saber eu nunca a utilizei para nada... Ela é muito especial para mim, entende? Meu amado...

-- Imortal. - ele completou a minha frase. - Sabe eu fiz uma arma para mim também... Uma versão menor desta daqui.

-- O quê? - sussurrei sentando-me ao lado dele. Ele tirou em baixo da cama, uma pequena adaga que parecia uma versão encolhida de minha espada... A lâmina era curta e afiadissíma, com o cabo idêntico ao meu, inclusive com o aro de ouro com a mesma frase. Cheguei o olho mais perto e vi que havia pequenos furos, tão pequenos que só uma agulha conseguiria se encaixar nela.

-- O quê são esses poros? - perguntei analisando.

-- São delicados ductos por onde passam um veneno. - ele sorriu. - No cabo há um compartimento interno, o do veneno que só é liberado quando a adaga é penetrada em algum corpo, e são nesses poros que saem ele. Se não morrer pelo golpe morre pelo o veneno. Monsieur Da Vinci me deu de presente o desenho dessa e da sua.

-- Minha espada foi desenhado por Signore Da Vinci? - disse arregalando os olhos, surpreso.

-- Sim, e se no meu tem o veneno, o seu tem a cura. Ele desenhou o meu para que parecesse inofensivo e inocente a primeira vista...

-- Mas perigoso quando bem usado... Igual a tu. - cai na gargalhada. Ele chutou a minha canela.

-- Isso me lembra que também tenho um presente para tu. - ele passou a mão no meu rosto. Depois se virou pegando um pacote de tecido roxo-escuro. Peguei-o sentindo como era leve. - Abra!

Desatei os laços vendo o brilho do metal polido reluzir mesmo o quarto estando um pouco escuro. Era um escudo prateado com um leão alado em vermelho escarlate gravado na frente... Coloquei ele pelo o antebraço sentido a leveza incrível.

-- É maravilhoso! - falei.

-- Eu sei... Quando eu te vi ali, tão donzela indefesa com aquele lobo feroz - ele tirando sarro da minha cara - sabia que precisaria de proteção.

-- Grazzie mio ragazzo... - falei deixando aquelas coisas de lado. Ele me deu um beijo meigo, passando os braços na minha nuca. Joguei o corpo dele em cima dos travesseiros.

-- Sabe que nesses dois dias em que estamos finalmente juntos, tu nem me... - disse passando a ponta do pé no meu ombro, descendo pelo o peito, barriga e pau ainda dentro do meu calção. - tocou.

Sorri, pegando o pé dele e massageando os dedos. Louis deu um risinho quando fiz cócegas nos pés dele do mesmo jeito com que minha mãe fazia comigo. Tirei os meiões jogando-os ao longe, e beijei os tornozelos dele subindo pelas panturrilhas branquinhas, os joelhos... Parei por um momento, passado com a ponta dos dedos pelo os ombros dele descendo até a metade desnuda do peito dele, afrouxando devagarinho os cordões do colete apertado, enquanto a minha outra mão descia pela parte interna da coxa dele.

-- Por que tu me enlouquece desse jeito? - sussurrei.

-- Eu nunca fiz nada... - ele em um sorriso cheio de segundas intenções, me puxou com delicadeza, fazendo com que eu ficasse em cima dele, entre as coxas.

-- Fez sim seu devassinho. - disse dando beijos no pescoço dele fazendo-o rir. - Sempre foi tão indolente, com esse jeito inocente mas lá no fundo... Ahhh Louis. Como podemos ficar tanto tempo longe um do outro?

-- Não sei... Mas não adianta de nada. Agora é só olhar para frente... Somos jovens ainda não é? - ele disse se reestruturando embaixo de mim.

-- Por falar nisto... Feliz aniversário... Pelos os seus 20 anos. - me lembrei. - Tu quase não mudaste...

-- Ahh tá. Engana-me que eu gosto. - ele arqueou as sobrancelhas fazendo uma careta.

-- Eu falo sério... Tens ainda o mesmo rosto, o mesmo sorriso com covinhas... As bochechas rosadas... - passei o meu nariz pela a bochecha dele, aspirando o cheiro - E também o corpo muito atraente. Ô se é.

-- Quando era menor... - ele disse.

-- Ainda mais do que já é? - brinquei. Ele beliscou o meu braço com raiva e deu a língua.

-- É sério. Sempre sentia inveja do meu irmão por ele ser mais alto do que eu... Acho que puxou mama a altura, embora ele tivesse cara de cavalo e cheirara a cavalo... - ele gargalhou e eu também não pude evitar. - Mas ainda bem que puxei a beleza dela, mas é uma pena que sai com a altura de meu papa. Seria tão alto como tu.

-- Quer um segredo? - falei.

-- Oui.

-- Eu ADORO os baixinhos... - disse o abraçando por trás. - Dá vontade de abraçar-lhe e encher de beijos.

-- Já está abraçando-me, então quero os meus beijos. - ele disse exigente.

-- Tudo o que Vossa Alteza querer... Sabe que, ainda ganharás brinde!

-- O quê?! - ele disse feliz.

-- UMA BOA DOSE DE CÓCEGAS! - fiz cócegas nele e paramos quando Isabella abriu a porta do quarto segurando uma boneca e correu desajeitada para a nossa cama. Peguei ela no colo fazendo cosquinha na barriga dela, fazendo-a se contorcer de rir até quando o som nos fez parar.

-- Papa.

-- Ela disse papa? - Louis falou sobressaltado.

-- Sim. - disse espantado e emocionado. Bella bateu as palmas.

-- Que lindo! Minha princesa disse a primeira palavra! Mas... Para quem será que ela disse? - ele perguntou. Dei os ombros. - Claro que foi para mim.

-- Ah tá. - falei.

-- Como é que é? Lógico que foi para mim! - falei.

-- Oras, que tolice! É óbvio que ela disse a moi. - ele disse.

-- Por que tu sempre acha que é o centro do mundo? - eu murmurei.

-- Não me amola... Bella, diga ao cabeça dura de teu papa Enzo que foi a mim que falou... Eu vou te dar uma boneca nova... - ele falou pegando na mãozinha dela.

-- Aí não vale, fazer manipulação com a menina! - disse.

-- Mentira! - ele retorquiu. - Veremos isso quando o Fabrizio aprender a falar.

-- Com certeza ensinarei ao bambino me chamar de pai irá ver.

-- Veremos! - Louis deu a língua.

E foi assim, brigando sobre a primeira palavra dita, que eu, Louis, Isabella e Fabrizio iniciamos a nossa família nada convencional, fora dos parâmetros, e talvez errada, porém com algo que provavelmente poucas tinham de sobra como nós: O Amor.

CONTINUA

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Comentários

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A parte das armas me deu um calafrio... Tal como as melhores tramas, os mais pequenos detalhes iniciais revelam a sua devida importância no momento certo.

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Sem Palavras... Excelente!! :3 o amor deles é tão lindooo!! *-*

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Nossa, como você escreve comentários longos nos contos alheios! Bem que podia tomar como exemplo para os seus contos, e expandir suas histórias românticas neh? kkkkkkk

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Muito bom... Dá uma sensação muito legal ler seu conto. Nota 10.

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Caro amigo...É com satisfação que acabei de ler e me atualizar do teu conto. Ele está simplesmente sensacional...Só posso dizer e afirmar que realmente nascestes para escrever.Parabéns...Espero que depois de tantos problemas, de tanto sofrimento, eles possam ser felizes para sempre.

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Estupendo, maravilhoso, incrível, estonteante... melhor parar. kkkkkkkk. Quanto a adaga de Louis, sinto algo de sombrio para com relação a ela, algo a La Romeu e Julieta, mas a espada ser a cura me deixou mais esperançoso de um final feliz. Também, tais objetos podem ter sido apenas uma alusão a personlidade de ambos e a natureza de sua relação. Parabéns meu querido Bernardo, você se supera a casa escrito. Já ouviste o pensamento, "Quem escreve constroi um castelo e quem ler passa a habitá-lo", pois acredito nisso e acredito que aplique-se perfeitamente ao teu conto. Abraços companheiro, aguardo sua nova postagem. Você é um grande escritor, não duvide disso.

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Esses dois vivem entre tapas e beijos...mais o que importa é que eles se amam muito.o conto esta magnifico.10

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lindo meninos acompanhando aqui bjsss continuem agora adoro vcs!!!

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Está se aperfeiçoando memo nessa história. Mas covenhamos que se tivesse feito o que fez com o verdadeiro Ézio Alditore a história teria acabado alí mesmo, pois o personagem principal já estaria morto kkkk. Parabéns Bernardo. Grato pela leitura. Abraço.

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Finalmente juntos kkk Em uma parte do conto vc se inspirou em "O Vento Levou" ou foi impressão minha ?? Perfeito como sempre *-*

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Que lindo os quatro juntos *-*. Espero que nada mais interrompa o amor deles. Esperando sempre ansioso o próximo :).

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