AMOR IMPROVÁVEL 02

Um conto erótico de G Froizz
Categoria: Homossexual
Contém 6671 palavras
Data: 17/11/2012 17:32:21
Assuntos: Amor, Gay, Homossexual, Perigo

CONTINUAÇÃO - PARTEFiquei rodando pela favela quando um rapaz chegou:

_ Ei, doutor, o Caveira tá chamando o senhor!

_ Já estou indo!

_ Ele disse que era agora!

_ E eu estou dizendo que estou indo... Eu não vou sair correndo. Se voc~e quiser correr na frente, corra e avise que estou indo!

_ O senhor que sabe!

Cheguei...

_ Algum problema, Rômulo?

_ Doutor, doutor... o senhor tá pisando na bola!

_ Como assim?

_ Tratando mal minhas visitas...

_ Ahh... Eu tratando mal suas visitas?

Cheguei perto dele e puxei o lençol, apontei para o ferimento...

_ Tá vendo isso aqui? Se você for ao melhor hospital do Mundo, não encontrará lesão mais limpa, mais medicada e mais assistida! Qualquer médico dirá que o tratamento é cinco estrelas! Em outras palavras: muitíssimo bem tratada! Mais até do que merece! Porque eu faço, quando vou ver, está desfeito! Pra resumir, Rômulo, eu estudei pra tratar “bem” esse tipo de coisa, e você me chamou também pra tratar desse tipo de coisa. Agora, coisinhas como aquela sua visita, sinto muito, mas você vai ter que procurar outro profissional para tratar “bem”! Eu, não!.

Ele me olhava, estático. E eu continuava...

_ Se você tiver qualquer reclamação a fazer sobre o meu mal tratamento em relação à sua ferida, estou aqui, humildemente, para escutar. Agora, vir falar que tratei mal sua visita. Francamente! Eu que fui destratado e esperava de você o mínimo de consideração! Mas sua expressão era de quem estava adorando! Algo mais?

_ Não.

_ Muito bem.

Nesse momento, um rapaz entrou...

_ Seu Caveira...

_ Diz, Chulipa.

_ Hoje eu saio pro Felício entrar. Só pra avisar!

_ Falou! Assim que ele chegar, manda ele vir aqui!

_ Certo! Ah! Aqui bem na entrada, tá escorrendo uma água. Vem lá de cima do morro. O senhor pede pra ele dar um jeito... Ele entende!

_ Tá!

O rapaz veio a mim, estendeu a mão...

_ Doutor, se a gente não se ver mais, foi um prazer!

_ O prazer foi meu. Obrigado por tudo o que fez por nós, você foi dez!

_ Que isso! O senhor que é um anjo!

_ Anjo! [Risos]

Ele se retirou...

_ Rômulo, tem uma injeção agora: o antibiótico...

_ Pô... Meus dois braços estão doloridos!

_ Eu sei que fica assim... Então, vira!

_ O quê? Injeção na bunda?

_ Se eu der no braço... qualquer deles... amanhã você não o levantará!

_ Égua!

_ Fica de lado... Isso!

Fiquei de cócoras bem atrás da bunda de Rômulo e piquei. Daí fui injetando bem devagar... Quando entra um rapaz:

_ Seu Caveira? Opa... Desculpa!

_ Fica, fica...!

_ Que foi isso, chefe? O pessoal comentou. Mas pensava que era coisa pouca!

_ Depois a gente fala sobre isso! Ai...! Olha, esse é o doutor Alexandre... Dedicação total aos pedidos dele. Aqui, ele manda mais que eu... Entendido?!

_ Com certeza! Oi, doutor! Eu sou o Felício! Estou à sua inteira disposição! Já ouvi falar sobre o senhor, também! O pessoal lhe trata como anjo!

Antes que eu respondesse, Rômulo brincou:

_ Anjo, é? Olha aqui o anjo onde está! [Risos] Detonando minha bunda! [Risos]

_ Tem quem goste... Não é não, doutor?!? [Risos]

_ Tem sim, Felício! Mas, mesmo não gostando, a gente faz do mesmo jeito!

_ Falou e disse, doutor!

_ Pronto!

Ao levantar, olhei melhor para o rapaz e notei grande diferença entre ele e os demais. Felício era mais desenvolvido e tinha os olhos azuis contrastando com a pele bem morena, num tom bronzeado. Seu sorriso era lindo e suas pernas chamavam a atenção pela grossura. Rômulo notou meus olhares em direção ao rapaz... E quando se virou, percebeu que o rapaz me olhava também. Felício disse:

_ Bem... Vou sentar lá fora... Assim vocês poderão conversar mais a vontade...

Quando fui passando por Felício, escorreguei numa poça d’água e, quando já ia em direção ao chão, ele me segurou em seus braços. Ficamos com nossos rostos bem próximos e sorríamos uma para o outro...

_ Opa, doutor! Não faça isso! [Risos] Aqui, a gente não pode ficar sem o anjo! [Risos]

_ Mas, pelo visto, o anjo aqui é você, Felício! [Risos] Me salvou de uma bela queda! [Risos]

Ele me colocou em pé e saí. Mais tarde, Felício foi à calçada e falou que o chefe me chamava. Entrei...

_ Diga, Rômulo!

_ Nada... Só pra me fazer companhia mesmo! Mas se preferir, pode ficar com seu anjo!

_ Ai, ai... Um anjo daqueles era tudo o que eu queria!

_ Basta querer... Eu não já disse que...

_ Rômulo, eu acho que não fui claro! Eu não quero amores assim: comprados, trocados, obrigados... Eu quero um amor que tenha por interesse, única e exclusivamente, o amor!

_ Eu só ia dizer que poderia fazer a ponte! Interesse, da parte dele, eu acho que tem! Só pelo jeito de olhar!

_ Se houver, ele próprio virá a mim! Cuide das suas visitas... São muitas! [Risos]

_ [Risos] É verdade!

Ficamos jogando conversa fora até que Felício voltou a entrar...

_ Chefe, posso fazer o serviço aqui, ou atrapalha?

Eu tomei a frente...

_ Desse vazamento? Pode! Quanto antes, melhor...

_ Agora mesmo!

Felício tirou a camisa e procurou um lugar para colocar...

_ Pode deixar que eu deixo ali, Felício!

_ Ah... Obrigado, doutor! [...] Chefe, vou chamar um moleque para dar uma mão aqui!

_ Pode deixar que lhe ajudo, Felício!

_ Não, doutor... O senhor?

_ Qual é o problema? Assim, eu aproveito e vejo como se faz... e acabo aprendendo!

_ Se o senhor não se importa... segure aqui pra não deixar girar... com força!

_ Pegue ali em cima o esparadrapo... com ele, você pode impedir o vazamento, enquanto segue os outros passos!

_ Beleza, doutor! [Risos] Já tá é me ensinando!

_ Estou mostrando como ser prático e ganhar tempo...

Alguns minutos depois...

_ Pronto! Concluído!

_ Viu, como foi rápido? E lá em cima, deu certo?

_ Deu! Tinha um arame solto... Eu não reparei e me feri aqui atrás...

_ Vira! Vem aqui pra eu limpar e fechar...

_ Não precisa!

_ Precisa! Isso pode dar tétano! Vem!

_ Aqui?

_ Não! Aqui no banheiro! Precisa lavar!

Entrei com Felício no banheiro...

_ Lave aí!

_ Como? Vou molhar a bermuda!

_ Tire!

_ Tudo?

_ Quer molhar a cueca?

_ [Risos] Não!

_ Então, tire!

Felício ficou nu e tive a visão mais linda que poderia ter! Um corpo lindo que misturava o adulto e o adolescente. A bunda perfeita e o pau... prometia! Ele ficou encurvado, com as costas debaixo do chuveiro, possibilitando que a água caísse em cima do corte. Sua mão não alcançava. Aproximei-me dele, que me olhou de uma maneira enigmática...

_ Fique naquela posição!

_ Assim?

_ Isso! Eu lavo aqui...

Notei Felício agitando-se...

_ Tá ardendo?

_ Não, não é isso!

_ Então o que é, Felício? Fala!

_ Suas mãos, assim, passando nas minhas costas...

_ Tá ruim?

_ Pelo contrário... [Risos]

_ Pronto!

_ Desculpa eu ter ficado assim, doutor!

Sorrimos um para o outro.

_ Fique assim mesmo!

_ Nu? E desse jeito? O senhor não fica ofendido?

_ Não... Fico até feliz de fazer um rapaz como você ficar de rola dura só por sentir minhas mãos! Pronto... Terminei!

_ Eu já tinha ficado assim sem sentir toque nenhum... Só em olhar!

Felício falou isso enquanto se virava e parava de frente a mim. Nossos olhos estavam direcionados e nossos rostos foram, inconscientemente, se aproximando... Despertamos ao ouvir:

_ Felício... Chegue aqui!

_ Tô indo, chefe!

_ Vá até a casa do Amadeu e peça pra ele assar umas picanhas pra mim...

_ A quantidade?

_ O suficiente pra nós três comermos!

_ Nós? Eu também?

_ Claro! O doutor está lhe dando tratamento diferenciado... então vamos seguir os passos dele! [Risos]

_ [Risos] Vou lá!

Quando Felício saiu...

_ Rômulo, como você está mudado! Será que não é a hora de botarmos tudo em pratos limpos?

_ Não estou lhe entendendo, doutor!

_ Está! Está entendendo muito bem! Além das mudanças anteriores, agora você me vem com indiretas! Aliás... diretas! Dizer pro rapaz que estou dando “tratamento diferenciado”! Que é isso?

_ E não está? Com os outros não era assim! Doutor, deixe disso! Está muito claro seu interesse pelo Felício! E que mal há? Ele é livre, o senhor também é!

_ Acontece que não é o Felício que me interessa! Voc~e sabe muito bem que meu interesse é por... Quer saber? Tudo bem, Rômulo! Quero ver até onde isso vai! Se você está gostando disso, eu vou entrar no seu jogo!

_ Como assim?

_ Se você quer tanto ver... Pois você vai ver! Eu farei de tudo pra me envolver com o Felício! Mas fique ciente de uma coisa: eu não vou fazê-lo acreditar que quero e depois descartá-lo feito uma coisa sem utilidade! Se eu entrar, é pra ir até o fim! Eu não suporto quem usa as pessoas como instrumentos para atingir um objetivo pessoal!

_ O doutor está certíssimo!

_ Já que você disse que eu poderia pedir o que quisesse. Pois eu tenho um pedido!

_ faça!

_ Caso eu encontre no Felício uma possibilidade de viver um relacionamento legal, eu gostaria que você o liberasse dos serviços que ele presta aqui, pra você. Se ele tiver mesmo querendo viver algo comigo, vai ter que sair dessa vida!

_ E quem vai bancá-lo... o doutor?

_ Ele próprio! Eu tenho como conseguir um trabalho de meio expediente e no outro, ele estuda!

_ Está combinado! Agora, não acredito que ele queira! [...] Doutor, depois que o cabra entra nessa vida, é muito difícil sair! Às vezes até sai, mas na primeira dificuldade que encontra... volta!

_ Pode ser... mas eu acredito também no poder de transformação que tem o amor!

_ [Gargalhadas] O amor? [Gargalhadas] Oh, doutor... o mundo de onde o senhor veio é muito romântico! Esse, nosso, é realidade crua e nua! Pergunte ao Felício o que é amor, pergunte!

_ Rômulo, você é que está equivocado! O amor está em todos nós! Acontece que, às vezes, ele não encontra espaço pra aparecer! Se você vive, vinte e quatro horas, sob pressão, de frente pra morte, com a sensação de estar sendo perseguido, ameaçado... como o amor vai existir?

_ O amor, aqui, é cada morena que vai deitando... Todo dia uma!

_ Claro! Você pega uma hoje, porque você, lá no fundo, acredita que vai viver só até hoje! Aí, vê que escapou! Amanhã, pega outra. E tem a mesma sensação! Se é só por um dia, pra quê amar? Ter prazer... gozar já é o bastante! Olha! Pode até ser que eu viva só até amanhã... mas eu não penso que isso vai acontecer! Pra mim, eu vou viver até os cento e vinte anos! Você pensa assim?

_ Não!

_ E nem pode! Num descuido de nada... entre pessoas conhecidas... você quase passava pro outro lado! E eu sei que, mesmo aqui, desse jeito, você não se sente seguro! Se não fosse verdade, não precisava desses moleques a cada esquina, desde sua porta até a saída da favela! Nem o presidente da república tem uma segurança assim!

_ Doutor!

_ Entenda! Eu não estou fazendo críticas à vida que você leva... Estou dizendo o que penso sobre a vida! Pra mim, Rômulo, viver assim, por um fio dia após dia, não é viver!

_ [?]

_ Quanto às mudanças, eu sei que são difíceis! É verdade que umas pessoas tentam sair dessa vida e logo voltam. Sabe por que voltam? Simplesmente por terem mudado só por fora! [...] Quando a razão da mudança é o amor, aí não! A pessoa muda por dentro, pois é lá que o amor age! Essa pessoa, dificilmente, volta! Quem experimenta amar uma vez, quer amar sempre!

_ E o doutor acha que o Felício é capaz de amar?

_ Não só ele! Você também é! Todos somos...

_ Eu? [Gargalhadas] Não sei nem o que é isso!

_ Não sabe... ou tem medo de assumir que sabe? Mais ainda: que sente? O amor existe... mas vivê-lo é uma escolha individual!

_ Eu não tenho medo de nada, doutor!

_ Impossível, Rômulo! Mas quem sou eu para tentar convencê-lo do contrário? A gente se conhece a menos de uma semana e eu já pude conviver com três versões diferentes do você! Eu gostaria muito que só uma delas fosse a verdadeira: aquela do Rômulo guerreiro, forte, corajosa... mas que é capaz de sorrir, de chorar, de brindar, de abraçar de... ; e as outras: a do Caveira e essa atual - fossem escudos que você usa para se defender! A real... só você sabe qual é!

_ Doutor, eu...

Felício chegou...

_ Pronto, chefe! A picanha chega daqui a pouco!

_ Certo!

_ Felício, eu e o doutor estávamos falando sobre amor! O que é amor, pra você?

_ Vixe... Difícil falar!

Eu disse:

_ Felício, fale o que você, de fato, pensa! Não queira falar o que acha que queremos ouvir! Você... pensa que o amor poderia ser explicado ou exemplificado, como?

_ Doutor... eu acho que quando o cara ama, ele faz qualquer loucura pela outra pessoa! Ele é capaz de mudar da água pro vinho... Ele, se pudesse, levaria a pessoa pra um lugar onde ninguém pudesse destruir o romance deles! E o amor pode acontecer com uma pessoa que você jamais imagina, ou até rejeita... mas quando bate, tudo se encaixa...

Eu olhei para o Rômulo, que observava o que Felício ia dizendo com surpresa...

_ E aí, Rômulo? O que você me diz?

_ Eu quero fazer uma pergunta direta pra ele: Felício, você se olhando hoje, acha que teria possibilidades de amar outro homem? Eu sei sobre sua vida toda! Pegador, galinha... Eu estou falando de amor... nada de ficar com outro cara porque ele vai dar isso ou aquilo! Amar mesmo, outro homem, você acha que seria possível?

_ Eu não falei que o amor pode aparecer em alguém que você nem imagina... até rejeita? Então... eu rejeito homem, mas poderia, de repente, descobrir que estou louco por um!

Felício terminou sua resposta olhando pra mim. Rômulo percebeu e riu discretamente. E, sem esperar, recebeu de Felício:

_ E o senhor, chefe, acha que poderia amar outro homem?

_ Felício, você conhece esse negão! Eu poderia até ficar, assim... mas como ia faltar um negocinho nele, eu ia querer completar fora! [Gargalhadas]

_ Então não seria amor, chefe! Se fosse, o senhor e o cara se completariam e não precisariam de mais ninguém! O senhor ia encontrar carinho, amizade, segurança, confiança, alegria... e prazer sexual! E o prazer sexual seria tão bom, que aquele negocinho não faria a menor falta!

Eu dei uma risada e dei um abraço em Felício do seu lado...

_ É isso mesmo, Felício! Você tem que idade?

_ Vou fazer vinte depois de amanhã!

_ Tão jovem, mas tão esclarecido! Quando eu botei os olhos, notei que você não era uma casca, uma caixa fazia! Você tem conteúdo, Felício! Tem tudo pra alçar vôo.,.

Rômulo soltou...

_ Olhando vocês dois, assim, juntinhos, sorrindo... formam um belo casal!

_ Que é isso, chefe! O doutor até se ofende... um moleque feito eu!

_ O doutor, o que diz? Fica ofendido?

_ Nunca! Formar um casal com um rapaz lindo como você Felício, nunca poderia soar como uma ofensa... mas um elogio!

_ [Gargalhadas] Felício, depois dessa, eu ia nele e lascava um beijo... daqueles!

_ Vontade eu tenho... Mas tenho medo de tomar um fora!

_ Medo, Felício? Você com medo? Coragem, rapaz! Vai!

_ Pois eu vou mesmo!

Eu ouvia o Rômulo dando corda e observava a expressão encabulada do rapaz, achando que ele não faria o que o chefe induzia... principalmente por estar na presença dele. Mas Felício chegou, pôs uma mão por detrás do meu pescoço e a outra puxando minha cintura contra seu corpo e colou seus lábios aos meus. De repente, eu sai do chão. O beijo daquele rapaz tinha um ingrediente que lhe dava um sabor especial. Era doce e ao mesmo tempo intenso... Foi um beijo demorado que aconteceu acompanhado das gargalhadas de Rômulo, que também tratou de decidir seu término...

_ Chega! Chega! Olha o chefe aqui!

Ao concluirmos o beijo maior, Felício ainda deu duas bitoquinhas. Depois, sorrindo e com os olhos radiantes, disse:

_ Foi o melhor beijo da minha vida!

_ Eu lhe digo o mesmo, Felício! Seu beijo é marcante e inconfundível!

_ Tomara que seja o primeiro de muitos!

_ [Risos]!

_ Eu vou lá pra fora... Quando a picanha chegar, eu trago!

Logo que Felício deu as costas...

_ Doutor, eu não tenho mais dúvidas... o Felício está completamente apaixonado! Os olhos dele faiscavam! E tem mais: pra fazer isso na minha frente... Só muita paixão!

_ Tão jovem... tão corajoso! Não acha, Rômulo? Encantador! [Risos] E como beija! Fiquei até zonzo! [Risos]

_ Beija bem?

_ Beija bem... Gosto de beijos longos, sabe! Mas há beijos cuja rapidez mostram uma carga de emoção muito maior... Porque são deslizes de coragem! O medo falha, aí a coragem aproveita e faz aquele beijo “relâmpago” acontecer, mas o medo volta e o beijo se encerra... Mas o pouco que fica, devasta a alma... Toma conta de tudo!

_ Doutor... leve a mal, não... uma coçadinha aqui! [Risos]

_ Agora mesmo! [Risos]

_ Ohhh...! Coisa boa! [Risos]

_ Oba! O Rômulo que eu gosto parece estar voltando!

_ [Risos] Esse doutor! [Risos]

À noite, já bem tarde, Felício apareceu todo banhado, arrumado e cheiroso:

_ Doutor, posso dar uma palavrinha?

_ Sim, Felício...

_ Aqui... na parte da frente...

Quando me aproximei, Felício me encostou contra a parede e iniciou um beijo quente, acompanhado de pegadas fortes e gemidos instigantes...

_ Estava louco pra sentir seu corpo assim, doutor... sentir que seu cacete ficava como o meu...

_ Ahhh... Felício! Assim eu não resisto!

_ Nem eu! Ummm...! Gosta quando eu chupo sua língua com força, gosta?

_ Gosto! Gosto!

_ Então bota aqui na minha boca pra eu chupar! Isssssssss...! Ummm...!

Durante esse beijo, Felício abriu sua bermuda e a minha e juntou nossas rolas e começou uma deliciosa punheta... Ele lambia meu pescoço, minha orelha... e punhetava. Pôs a língua pra fora e deixou cair saliva sobre nossos cacetes... Agora a punheta estava provocante demais...

_ Hummm...! Felício, que delícia! Hummm...! Hummm...!

_ Delícia vai ser quando a gente fizer o resto! Aí, sim! Ahhhh...! Punheta gostosa! Ahhh...!

_ Não tenho dúvidas que será uma loucura! Se você já faz meu corpo pegar fogo com uma punheta... com o resto, vai ser um incêndio total! Hummm...! Hummm...! Hummm...! Hummm...!

_ E quando é que esse incêndio vai acontecer?

_ Falta pouco! Daqui a dois dias termina meu acordo com seu chefe, e aí, na sua folga, a gente se vê!

Felício fez uma pausa, ficou meio pensativo...

_ O que foi?

_ Hã?

_ O que houve? Parou de repente!

Ele me agarrou novamente e retomou a punheta e o beijo. Depois sussurrou:

_ É muito tempo! Dá um “drible” no chefe! A gente faz rapidinho, mas muito gostoso...

_ Você o conhece mais que eu! Sabe que...

_ Sei que, quando a gente quer, arranja um jeitinho...

_ Hummm...! Hummm...! Hummm...! Hummm...!

_ Ele sempre tira uma soneca no final da tarde, não é?

_ É... mas... Hummm...! Hummm...!

_ Tô pertinho de gozar, doutor!

_ Eu também! Eu também! Ahhh...!

_ Posso fazer um pedido?

_ Ahhhhhhh...! Faz!

_ Goza na minha boca e deixa eu gozar na sua!

_ Vou gozar agora! Vai, bebe minha gala! Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh...! Isss...!

_ Abaixa, doutor! Vai! Uhhhhhhhhhhhhh...! Uhhhhhhhhhhhhhhhhhh...!

_ Felício... você é louco!

_ Sou! Pelo meu doutorzinho! [Risos] Amanhã, heim! Amanhã!

_ Felício, eu...

_ Issssssss...! Eu sei que o senhor quer... do jeito que eu também quero! A gente vai fazer esse morro estremecer! Isssssssssssss...! Meu doutorzinho gostoso! [Risos] Sonha com seu Felício aqui! Até!

_ Até...

Felício saiu e eu entrei...

_ O que o Felício queria?

_ [Risos] Nada demais...

_ [Gargalhadas] Com essa cara de quem gozou mais de dois litros de porra?!

_ [Risos]

_ Está escrito na sua testa! [Risos] São rápidos! [Risos] O negão aqui ainda estaria nas preliminares... fazendo o reconhecimento do terreno! [Risos] Não sou nem coelho!! [Gargalhadas]

_ [Risos] Vamos dormir que é melhor!

_ Esse sono de hoje vai ser bom, heim, doutor Alexandre?!?

_ Meus sonos sempre são bons! [Risos] Mas, confesso: o de hoje vai ser melhor! [Risos]

_ [Gargalhadas]

No outro dia, assim que Felício chegou, veio a mim e desejou um bom dia seguido de um beijinho. Rômulo riu:

_ Esse negócio aí, é “namoro ou amizade”?

_ Por mim, chefe, é casamento pro resto da vida! [Risos]

_ [Risos] Ouviu, doutor? [Risos]

_ [Risos] Ouvi! [Risos]

_ Só espero que tenham a consideração de me convidarem para apadrinhar!

Mais tarde, Rômulo ficou perdido em pensamentos... Perguntei:

_ Pensando na morte da bezerra?

_ O doutor quase acertou! [Risos] Pensando na morte do Bezerra!

_ Quem?

_ Finado Bezerra, o pai do Felício.

_ Que houve?

_ O pai dele e o meu eram os “cabeças” aqui do morro... Eram mais que irmãos. Uma noite, os dois foram pegos numa tocaia... meu pai escapou, mas o :Bezerrão, não! A mulher dele tava de bucho, esperando o Felício, e fugiu com medo. Eu era molequinho. Quando eu tinha dezesseis anos, foi a vez do meu velho... e eu fiquei no lugar dele. Depois o Felício apareceu por aqui com a mãe. A minha a reconheceu, e, quando me contou sobre o passado, eu os trouxe pra cá. Desde então, eu dou atenção total a eles!

_ E depois vem falar que eu dou tratamento diferenciado ao Felício?!

_ Era brincadeira... [Risos] Ele tem tratamento diferente sim! Acho até que deveria ser mais!

Fiquei pensativo, cheguei pertinho do Rômulo e perguntei baixinho:

_ Se eu fizer uma pergunta, você jura que não fica ofendido?

_ Juro. Mas já sei até qual é a pergunta...

_ Pois diz!

_ Se o meu pai teve alguma coisa a ver com a morte do pai dele... É isso?

_ [Risos] É.

_ Doutor... ele sempre disse que não. Mas, depois que fiquei no comando e senti na pele como as coisas funcionam... eu penso que meu pai tinha “culpa no cartório”... Claro... Certeza, a gente nunca vai ter... ele morreu sustentando inocência!

_ Entendo...

_ mas é como o doutor me falou... essa vida – que, o doutor não considera vida – é uma constante espera pela traição, pela dor, pela morte. Não dá pra confiar nem nos parentes! Já vi pai matar filho, irmão matar irmão, filho matar pai...

_ Eu não saberia viver assim, Rômulo!

_ Eu também não sabia... nem queria aprender! Quando moleque, era doido pros meus pais mudarem daqui. Mas, com a morte do velho, fui obrigado a aprender! Ou aprendia, ou morria! [Pausa] Fora minha mãe – que também já se foi, mas por “morte morrida”, não “morte matada” – o doutor é a única pessoa que eu sinto confiança!

_ Eu sei... Você me confiou a sua vida!

_ E não foi apenas naquele primeiro momento! Até agora, o doutor tem minha vida nas mãos! Numa injeção dessas, o doutor poderia me matar! Mas eu olho nos seus olhos e só consigo ver vida!

_ Fico muito feliz!

_ Vou lhe contar um segredo: no dia que meu pai foi enterrado, eu fiz um juramento: ficar aqui só até conseguir o suficiente para desaparecer e recomeçar tudo, mas num lugar bem longe – onde ninguém me conhecesse. Por isso, eu nunca me deixei ser filmado, fotografado... Nunca saí daqui pra nada!

_ E esse dia está perto?

_ Muito!

_ E quem ficaria no seu lugar?

_ Eu não vou dizer a ninguém o que vou fazer. Vou deixar “no ar” que me pegaram e deram sumiço em meu corpo. Mas, pouco a pouco, eu estou levantando a figura do Felício frente aos outros moleques: atribuindo funções diferentes a ele, permitindo que tome certas decisões, deixando que ele lidere, coordene ou fique de olho nos colegas... Assim, naturalmente, ele ficará no meu lugar. [Risos] Quer dizer, ficaria, né?! [Risos] Agora... casando com o doutor... !!! [Gargalhadas]

_ [Risos] Será? [Risos] Mas, voltando ao assunto... caso ele ficasse por aqui mesmo, o que você está pretendendo fazer é muito justo! Você teve sua vez, sozinho, e agora ele teria a vez dele... – afinal, os pais de vocês eram “sócios”!

_ É assim que eu penso também!

Cheguei perto de Rômulo, segurei seu rosto com as duas mãos...

_ Você não sabe como fiquei feliz com o que você acabou de me dizer! Saber que você desejava e pretende sair daqui deixou meu coração explodindo de alegria. Isso mostra que o Rômulo verdadeiro é o que eu pensava!

... e beijei sua testa.

Alguns minutos depois, Felício chamou-me sem que Rômulo o visse:

_ Olha... pedi ao Chulipa pra ficar aqui mais tarde. Quando o Caveira dormir, o senhor vai a esse endereço. Eu vou logo em seguida. É minha casa... vamos ficar só nós dois!

_ Felício, e se o Rômulo acordar e der pela falta de nós dois?

_ Eu conheço essa soneca do Caveira! A gente vai voltar e ele ainda vai estar dormindo... Por favor! O senhor vai embora amanhã... e eu? Fico só na punheta? [Risos]

_ [Risos]

_ Vou esperar! Beijo!

Quando voltei a entrar, achei melhor não esconder – o futuro encontro com Felício – de Rômulo. Mas deixei para contá-lo em outro momento, pois, logo que me viu, Rômulo perguntou:

_ Doutor Alexandre... [Risos] já pensou no valor do seu precioso trabalho? O valor material! Porque o sentimental... minha eterna gratidão... não tem dinheiro no mundo que pague!

_ Tá apressado pra se ver livre de mim, heim, seu Rômulo?

_ Pelo contrário! Estava até pensando em propor mais uma semana... Por garantia, né? Vai que eu tenha uma piora...

_ Não tem nada de piora! Você já está pronto para seguir com a recuperação sozinho... tomando, você mesmo, os cuidados necessários! Mas eu me comprometo de, pelo menos duas vezes na semana, passar por aqui... pra puxar suas orelhas! [Risos]

_ Ai! [Risos] Se fosse, pelo menos, pra me ajudar... [Risos] nas coçadinhas! [Risos]

_ Olha só! [Risos]

_ Por falar nisso... [Risos] dá pra vir aqui?

_ [Risos] Dá! [Risos] Aproveite que só tem mais um dia! [Risos]

_ Ohhhh...! Coisa boa! [Risos] Mas meu amigo aí acha melhor! [Risos]

_ [Risos] Tô vendo! [Risos] Pronto?

_ Beleza.

Quando fui saindo, Rômulo segurou meu braço. Olhos nos olhos...

_ Obrigado... mesmo, viu?!

_ Tá.

_ Eu sei que foi muito mais que amor ou compromisso com sua profissão! E eu queria saber corresponder a tanta doação... mas não sei ou... não consigo! Precisaria nascer de novo, num mundo romântico como o seu pra fazer isso...

_ A gente não precisa morrer de verdade pra renascer. A gente renasce cada vez que muda por dentro... É fácil? Não! Mas é possível! [...] Mas não existe profissional que possa prestar esse serviço, Rômulo! A gente tem que ter coragem, força, e acreditar que é capaz! Sozinho!

Rômulo me abraçou.

_ Acho que não tenho mais tempo pra mudar tanto...

_ Será mesmo?

As horas foram passando e quando dei por mim, Rômulo já estava dormindo. Conferi e já eram quase cinco horas. Decidi ir ao tal encontro. Ao sair, não vi nem Felício e nem Chulipa, mas outro moleque se aproximou...

_ Você viu um dos rapazes que ficam aqui?

_ O Felício pediu pra eu ficar enquanto o Chulipa chega...

_ Ah... Tá certo!

Segui caminho. Estava já próximo quando passei em frente a uma locadora de vídeo-game que ficava num sobrado. Vi Chulipa e resolvi subir e pedir que ele não se demorasse, já que Rômulo não aceita outros moleques na proteção do barraco que não ele e Felício.

_ Chulipa, vem aqui, por favor!

_ Oi doutor?! Aconteceu alguma coisa?

_ [Risos] Não... Mas vai acontecer se seu chefe acordar e não ver você por lá!

_ Eu? Mas meu dia é amanhã! O Felício não está lá?

_ Chulipa... o Felício não acertou com você de trocarem por umas duas horas?

_ Comigo?! Não... O Felício já me viu hoje umas três vezes e não falou nada sobre eu ficar no lugar dele!

_ Mas ele me disse que estava tudo acertado...

_ Ih...! O Felício está cheio de mistério. De manhã eu ia passando de bicicleta pela rua de baixo e vi quando ele conversava com um cara dentro de um carro preto. Quando perguntei quem era e o que o cara queria, ele ficou gaguejando e depois disse que era assunto do chefe... Eu fiquei meio cabreiro e tive até vontade de perguntar ao Caveira, mas ele e o Felício são cheios de segredinhos... fiquei na minha!

_ Então eu vou voltar pra casa... Você sabe onde o Felício mora, não é? Do lado do Centro Comunitário...

_ Não... Doutor, ele mora na mesma rua do barraco onde o Caveira está.

_ E esse endereço aqui... Não é de onde ele mora?

_ Não! Quem deu ao senhor?

_ Ele mesmo.

_ O Felício tava era “lombrado”! [Risos] Pode perguntar ao Caveira, doutor... A casa do Felício é depois lá do barraco pouca coisa... Eu tô falando! Pro senhor ter uma idéia, da calçada a gente consegue avistar a casa dele!

Um frio me correu pela espinha, fiquei branco... Chulipa apontou para baixo, em direção à rua...

_ Olha o Felício aí!

Eu olhei, rapidamente, e vi que Felício falava no celular. Estávamos no alto, mas ele não nos viu. Quando Chulipa já ia gritar por ele, tapei sua boca e fiz sinal para tentarmos ouvir o que ele falava... Escutamos apenas:

_ ... tem que ser agora! Ele está só e dormindo... Não. Não, o doutor saiu... Vai logo, porra! Eu vou correndo para alcançar o doutor... Vai agora, caralho! Mas vê se, dessa vez, não faz merda, como o outro!

Felício, mal acabou de falar, saiu em disparada... Desci as escadas em disparada acompanhado por Chulipa...

_ Doutor... vão “apagar” o chefe! Vão “apagar” o Caveira! Caralho!

_ Vamos correr...

_ Mas a gente vai morrer também! Eles estão com “fogo”!

_ Vamos, Chulipa! Vamos!

Ao avistar o barraco, vimos, mais adiante, o carro preto.

_ Foi naquele carro! O Felício estava dentro dele, conversando com um cara...

_ Chulipa, vai buscar ajuda... Depressa!

_ Doutor, aonde o senhor vai?

_ Ainda pergunta, Chulipa? Corre, rapaz, chama alguém!

_ Eu não vou deixar o senhor entrar, não! O senhor vai morrer, doutor!

_ Chulipa, faz o que estou dizendo... antes que o Felício chegue!

A porta estava escancarada. Tirei os sapatos, mas continuei de meias e fui entrando sorrateiramente, com o corpo reste à parede, até atravessar a sala. Escutei as vozes de Rômulo e outro homem – que deveria estar próximo à cama, já que eu não podia vê-lo do corredor. Consegui chegar ao segundo cômodo – onde havia restos de material de construção e ferramentas. Rapidamente, peguei a arma que, há alguns dias, tinha escondido por detrás de uma coluna. Eu tremia tanto que quase não consigo tirar a arma de dentro da camisa que a embrulhava.

Apesar de nunca ter utilizado uma arma em minha vida, guiei-me pelo que já tinha visto em filmes, novelas... e fui entrando. Cheguei à porta do quarto, no exato momento que o homem apontava em direção à cabeça de Rômulo e dizia que agora era a vez dele pagar a dívida do pai. Surpreendi-os...

_ É melhor você desistir da cobrança!

O cara olhou em minha direção, mas permanecia com a arma apontada para Rômulo que estava sentado na cama, olhando fixamente para o rosto do algoz. Não se via nenhum sinal de medo em sua expressão. No entanto, ao me ver ali, Rômulo ficou pálido e logo o suor começou a aparecer em sua testa.

Rômulo nada dizia. Seus olhos alternavam entre mim e o homem â sua frente. O cara, agora, nitidamente, nervoso, ameaçou:

_ Eu vou atirar, heim! Eu vou atirar!

_ Você pode até atirar, mas daqui você não sai com vida! É você atirar daí, e eu fazer o mesmo daqui! Você é quem sabe! Agora, eu lhe dou a chance de sair vivo e desaparecer daqui... basta você abaixar a arma, bem devagar, deixando-a aí, sobre a cama!

_ E eu sou otário de deixar a arma? Vamos fazer assim: eu não atiro e sumo daqui. mas levando a arma comigo! Por garantia, meu chapa!

_ Não! Sai desarmado! Colega, sua melhor opção é confiar em mim! Pelo menos você tem a possibilidade de continuar vivo! Ou prefere morrer em nome de um acerto de contas, que nada tem a ver com você? Heim? Deixa a arma aí! Eu estou dizendo que não vou atirar! Vai! Resolve! Pode cair fora, mas a arma tem que ficar aí, perto dos pés dele!

_ Negativo! Se eu deixo, você pode até não atirar, mas o Caveira atira!

_ Como é que ele vai atirar em você! Não está vendo? Ele mal consegue se mexer direito... daqui que ele alcance a arma, você já terá saído da favela! Anda, rapaz! Vai sair ou prefere morrer?

Olhei para Rômulo:

_ Se ele desistir, você o deixa ir, Rômulo?

_ Deixo.

Voltei a falar com o cara:

_ Põe logo a arma e sai... Depressa! Se você demorar demais, aí sim, complica sua situação... daqui a pouco o pessoal dele vai está todo aí fora!

Assim que o cara pousou a arma e já vinha em direção à porta, senti o cano frio de um revólver em minha nuca. Rômulo afastou a perna, de modo a esconder o revólver, impedindo que Felício percebesse-o. Depois, Rômulo de modo quase imperceptível, foi, lentamente, puxando a colcha da cama, fazendo a arma chegar ao alcance de sua mão. Tremi ao ouvir:

_ Ah... Quer dizer que o doutor também sabe usar armas! [Risos] Sabe nada! Daqui mesmo eu estou vendo que essa pistola está travada! Dá aqui esse brinquedinho!

Felício tomou a arma das minhas mãos, fez um rápido movimento para destravá-la que provocou um estalo. Em seguida apontou para o comparsa que estava diante de nós:

_ Vou ensinar ao doutor como se usa! É assim, olha!

E atirou três vezes no homem, que foi jogado, devido à força dos tiros, contra a parede e caiu de cara no chão... O sangue escorria. Minhas pernas estavam dormentes, a língua parecia pesada e seca, e de minhas mãos, geladas e trêmulas, escorria suor por entre os dedos.

_ Aprendeu, doutorzinho? Não é fácil? [Risos] Mais fácil que dar injeção! [Risos] E o resultado é imediato!

A frieza como Felício atirou naquele sujeito somada ao tom jocoso e cheio de escárnio de sua fala foram, para mim, a certeza de que dali eu não sairia vivo. Olhei para o Rômulo e vi seus olhos enchendo de lágrimas – sinal claro da decepção, em relação à Felício; e do sentimento de impotência, desespero e culpa por me ver naquela situação e poder fazer.

Novamente percebi que Rômulo puxava, discretamente, a colcha. Vi que a arma estava muito próxima de seus dedos e tentei ganhar tempo, falando com Felício.

_ Felício, eu juro que se eu não estivesse aqui e outra pessoa me contasse, jamais acreditaria que o Felício que está com essa arma encostada em minha nuca é o mesmo Felício que há alguns dias me falou, neste mesmo lugar, o que era amor! Eu não posso ter me enganado tanto! Um rapaz que possui um olhar como o que eu vi diante de mim nunca seria capaz de atitudes assim!

_ O olhar?! [Risos] E como era esse olhar... doutor anjo? [Risos]

_ Era um olhar de quem ama a vida, um olhar que transmitia alegria, entusiasmo... só coisas positivas...

_ Pro senhor ver... nem tudo que parece, é!

_ Mas não parecia. Era! Aliás... É! Você é daquele jeito, Felício! Você deve estar se deixando levar por motivações que nem sabe se existem, de fato. E há coisas que, depois de feitas, não têm como desfazê-las. Matar é uma delas! Imagine, depois de um tempo, descobrir que foi injusto? Viver com o remorso atormentando a mente? Pensa melhor... Vamos conversar! As coisas devem ser resolvidas através de conversas... e não de tiros!

_ Quem está nessa vida, doutor, não sabe nem o que é remorso! Não tem tempo pra perder se arrependendo do que fez ou deixou de fazer! Não tem tempo pra perder com blá-blá-blá... “Apagando”, a gente elimina logo o problema!

_ E eu sou um problema pra você? Que razão você teria, então, para me “apagar”? Que é isso, Felício? Você está apontando uma arma pra alguém que, desde o primeiro instante, só admirou, elogiou e lhe ajudou! Pensa um pouco, cara!

_ Oh, doutor! O senhor é que tá sendo injusto! Eu fiz de tudo... de tudo mesmo... pro senhor não pagar dívida dos outros! Eu já poderia ter feito isso antes, mas não fiz... E por quê? Porque eu tava tentando dar um jeito de lhe tirar das áreas! Mas o que o senhor fez? Veio dar uma de anjo protetor! Agora... Já era! [Risos] Ainda mais que eu não queria perder aqueles beijinhos! [Risos] É sério! [Risos] Pro senhor ver... eu gostei tanto do seu beijo que ainda quis lhe poupar! Pena que o senhor vai ficar longe do Caveira, porque enquanto o senhor vai pra junto dos outros anjinhos, ele... vai pro inferno fazer companhia ao papai traíra dele!

Rômulo falou:

_ Felício... se o motivo é acertar as contas dos nossos pais, você só precisa atirar em mim! Deixa o doutor ir embora, cara! Nada a ver fazer isso com um cara que só fez ajudar! Até mesmo com você ele foi legal... Lembra? Tratou do seu corte... Deixa ele ir! Pode me matar... de boa!

_ Oh, Caveira, fica na sua aí! Agora você não canta mais de galo nesse caralho aqui, não! Seu reinado acabou, otário! Já deveria ter acabado com a bala que ia estourar seus ovos! Mas você teve a sorte daquele baitola não ter mira! Só que eu tenho! Olha bem pra cá! Primeiro eu quero ver sua cara assistindo o doutor que tanto colaborou com você ter a cabeça estourada... E sabe de quem é a culpa? Sua! Sua, Caveira! Presta atenção agor...

Nesse momento, alguém entrou no barraco fazendo barulho e, automaticamente, Felício virou o rosto para trás... Num movimento rápido, Rômulo pegou a arma que estava próxima a sua perna, fez um sinal – movimentando as sobrancelhas – me alertando sobre o que faria, apontou o revólver e... antes que Felício voltasse a olhar para frente... agachei-me ao escutar:

_ Perdeu, traíra!

E, ao mesmo tempo, dois estampidos ecoaram naquele lugar.

_ Desgraçado! Mira, eu também tenho!

Olhei para trás e Felício estava caído com uma arma em punho. Minha primeira reação foi tirá-la de suas mãos e pegar a outra que estava próxima às suas pernas. Levantei e as deixei sobre a cama. Logo em seguida, olhei para o corpo caído ao lado da cama, mais próximo a mim, e verifiquei se apresentava algum sinal de vida... Fui, imediatamente depois, em direção a Felício e, de cócoras ao seu lado, fiz a mesma verificação. Chulipa - cuja entrada deu a oportunidade para que Rômulo nos salvasse – estava em pé próximo à cabeça de Felício...

_ E aí doutor?

Os olhos verdes de Felício estavam abertos. Passei a palma da mão sobre eles, fechando-os.

_ Estão mortos... os dois!

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Comentários

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Genteeeeeeee, que conto é esse???? Amando

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muito bom o conto. 10. leia o meu primeiro conto por favor. sou seu fã G. FROIZZ.

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Que triste mais cheio de emoçoes esse capitulo.

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Já sei, você mentiu o Rômulo tá vivo sim e vai viver uma vida diferente com você!!! Acertei??? Vou correr pra conferir no próximo!!! 10!!!

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parabéns, muito triste esse capitulo :( pensei que o doutor ficaria com Felício mas me enganei. 10

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