Amar ou Te Matar... Eis a Questão - 14

Um conto erótico de Bernardo DellaVoglio
Categoria: Homossexual
Contém 2347 palavras
Data: 27/11/2012 23:01:02

Levantei do chão, com a cabeça fervendo em pensamentos. Vi Oliver saindo do navio e corri em direção a ele, segurando-o pelos ombros com força.

-- Tem como me dar uma carona até Florença? - disse afoito.

-- Sim, mas amigo... - ele me encarou preocupado.

-- É para AGORA Oliver!!! - disse com ressentimento.

-- Está bem, mas se acalme. - ele falou afagando o meu ombro.

E saiu correndo pegar uma charrete. Eu deveria ter suspeitado que Louis não estivesse bem, desde o ultimo acontecido na vila. E com essa situação que provoquei as coisas pioraram... Deveria ter parado quando ele pediu... Mas deixei as coisas acontecerem rápidos demais e deram nisto. Enquanto subia na charrete com Oliver, eu coloquei as mãos na cabeça e tentando pensar em alguma solução.

Era uma contagem regressiva. A partir do momento que o fedelho colocar os pés em Florença será o decreto de fim para nós dois... Eu tinha que manter a cabeça fria... Precisava colocar em mente que, deveria trazê-lo de volta pra mim.

-- Não tem como colocar isso para andar mais rápido?! - disse desesperado.

-- Desculpe amigão... Só é um cavalo! - ele disse tentando amenizar a situação.

Perder o controle era a ultima coisa que deveria ter acontecido. Deveria ser calmo, com ele... Ter feito com paciência... Se eu fosse reparar, mal havia uma semana desde a primeira vez que eu e ele havíamos transado... E do jeito que eu fiz, parecia meio que forçado. Ver aquele sangue dele em mim, e na cama, me fazia sentir absorto em culpa, pelo o fato de que machucar ele era a coisa mais abominável que poderia fazer. Eu deveria era protegê-lo desde o início, tanto pela minha profissão quanto pela minha responsabilidade como homem.

Mas Louis não podia me deixar sobre hipótese alguma... Eu não sei se alguém sabe o que é ter que ficar longe de algum amado. É doloroso, e torturante. Neste pouco tempo em que ficamos juntos, aprendi a viver com ele, saber dos gostos, personalidade... E principalmente, aprender a amá-lo. Apesar do jeito dele, de todos os defeitos, aquele fedelho tinha o meu coração na palma da mão, e me moldava da forma que ele queria e quando queria.

-- Pode começar a falar o que aconteceu. - disse Oliver.

-- É uma longa história. - falei.

-- Bem, estamos ainda um pouco longe de Florença. E eu sou seu amigão... - disse ele sorrindo.

Comecei a contar a história desde o momento da execução de Paulo e Vítor até a nossa transa no navio.

-- Nossa... Lorenzo com todo o respeito você foi muito imbecil! Sabe muito bem que só de olhar pra cara daquele bambino se vê que é cheio de não me toques... - ele me disse.

-- Eu não sei o que me deu Oliver... - falou.

-- Mas pelos menos se livrou dele... Ele tem cara de nojentinho. - disse ele desdenhando.

-- Não fala assim dele. Você não o conhece como eu... - disse sério.

-- Tu que sabe.

Calei-me por um tempo.

-- Sabe quando se tem a certeza que encontrou alguém, que você daria a vida por ela de bom grado? - falei por fim.

-- Humm... Eu acho que estou descobrindo isso também. - ele falou pensativo.

-- Eu o amo demais. - falei firme. Oliver deu um tapinha de consolo em minhas costas.

A viagem continuou a toda velocidade, passamos por algumas vilas. Eu não conseguia mais dormir por isso assisti o amanhecer do sol, mas não ligando nenhum pouco para o frio nem nada disso. Minha meta era outra. Depois de mais umas horas, chegamos na cidade. Florença era uma república, onde a monarquia não tinha grandes poderes como na França.

Era uma cidade viva, onde todos os prédios tinham a mesma cor de amarelo ocre envelhecido, e a cada esquina tinha algum poeta medíocre cantando canções sem nenhuma rima. A cidade tinha prédios altos e imponentes e a vida se concentrava nas praças e feiras em que se comerciavam desde tecidos, comidas, bebidas e prostitutas.

Tudo isso pouco me importava. Eu não sabia ao certo se ele já havia chegado... Desci da charrete de Oliver com pressa.

-- Ei onde pensa que vai? - ele falou.

-- Buscar o fedelho - falei apressado.

-- Enlouqueceu?! Vai chegar ao casarão dos Garleranni e fazer o quê? Pegar o duquezinho pelos ombros e saindo por aí como se nada tivesse acontecido! - ele disse.

Parei por um momento.

-- Mas Oliver... Se eu não fizer nada, ele vai cometer a burrada de se casar com Cecília... - disse.

-- Pense melhor... Acha mesmo que de cabeça quente resolverá algo?

-- Sugere o quê então? - indaguei.

-- Espere um pouco... Tens que conversar com ele. Aí sim poderá fazer algo. - ele disse.

Consenti aquilo com um suspiro profundo. Eu e ele fomos até a hospedaria onde morávamos... Nem cheguei a entrar, por que estava irritado demais para ficar em meu quarto. Sentei-me no banco da frente, olhando para o seu sem nuvens... O ar era quente e agradável... Meus dedos tocavam inconscientemente na espada que Louis havia me dado. Tirei-a da bainha fazendo-a reluzir, em um brilho perfeito.

No cabo havia o delicado anel de ouro que o fedelho mandou fundir no cabo. Na lamina gravado no metal polido as palavras "Meo Immortalis Dielectus"... O meu amado imortal. Era um daqueles momentos em que você fica inquieto e impaciente contando cada segundo e instante como se tudo de importante na sua vida fosse despencar ladeira abaixo. Oliver me chamou para beber em uma taverna, o que aceitei na hora. Precisava fazer algo se não iria ter um ataque dos nervos a qualquer minuto... Digamos que eu bebi que nem um condenado.

Na noite, fui para o quarto não sei como. Ficava resmungando algo sobre "fedelho" e "amor", mas as palavras saiam quase como um rosnado. E dormi que nem um morto, sentindo todo o peso da noite de insônia, e de toda a carga de emoções que me acompanharam no decorrer das ultimas horas.

...

No outro dia, parecia que um sino pesado de catedral havia sacolejado em minha cabeça. Tirei toda a minha roupa ficando completamente nu, e cai na banheira com água gelada, sentindo ela me acalmando aos poucos. Sai de lá, parando em frente ao desgastado espelho olhando o meu corpo, analisando o meu tórax, abdômen e barriga. Virei-me de costas vendo a pequena marca de nascença no pescoço... Eu fiquei parado por um momento observando o meu rosto, e pensando na mudança irracional de minha vida.

Eram pensamentos confusos, fora de ordem lógica, mas que precisavam ser reorganizados. Depois daquele momento, vesti-me e sai do quarto. Oliver estava lá fora, e estava quicando no chão parecendo ansioso.

-- Ei Lorenzo! Eu tenho uma boa noticia para te dar! – ele falou.

-- Fale!

-- Não tem aquela criada da casa dos Garleranni com qual eu cortejei? – ele disse. Mais outra coitada da coleção de Oliver.

-- Sim, fale.

-- Lógico que eu tive que amaciar a donna, certo... Ela é linda, apesar de ser um tanto faladeira, mas que mulher não é? – ele murmurou. – O estranho é que ela me disse que a Cecília passou mal e...

-- Fala agora Oliver deixe de enrolar!!! – disse irritado.

-- Ela me falou que amanhã de manhã, toda a família de Cecília e o noivo dela, vão na missa em Santa Maria del Fiore. – ele disse.

-- Oliver tu és um gênio!!! – disse beijando a bochecha dele.

-- Eu sei, eu sei... – ele disse se vangloriando.

-- O que eu preciso fazer é só enviar um bilhete para encontrar com ele... Faria isso por mim? – perguntei.

-- Mas é claro. – ele sorriu... De um modo estranho.

Fui para dentro do quarto e peguei um pedaço de pergaminho e uma pena e escrevi nervoso.

“Encontre-me nos intervalos da missa, embaixo da ancolva da cúpula central. Quero conversar contigo.

Meo Immortalis Dielectus”

Entreguei o bilhete para Oliver, que correu em direção a casa dos Garleranni. Era questão de tempo. A coisa que iria fazer era conversar com Louis, ele me perdoar, e a gente fugir. Simples, prático, e rápido.

Arrumei as minhas coisas, pegando tudo que era meu e colocando dentro de uma bolsa de couro. Eu estava em estado de felicidade total. O dia se passou tranquilo, andei um pouco pela a cidade... Até que parei num comerciante de jóias. Peguei alguns florins e pedi dois anéis de ouro, um cravejado de diamantes e o outro mais simples. Estranho eu comprar anéis para nós dois, mas o que é melhor do que alianças para afirmar um compromisso, certo?

E assim se permaneceu... À noite jantei tranquilo, pensando em como o fedelho deveria estar transformando a vida das criadas num inferno com as frescuras e caprichos dele e por isso quase tive um surto de risada no meio da noite. Na cama, passava os dedos nas duas alianças pensando no momento que um deles iria estar no dedo de Louis.

No dia seguinte, acordei assim que o galo cantou, lavei o rosto e pus a minha melhor roupa que tinha (leia-se a que menos tinha cara de pobre), e a vesti. Corri para a cozinha pegando só um pedaço de pão, e fui direto para Santa Maria del Fiore.

Era uma catedral colossal localizada no centro da cidade. Era visível a qualquer ponto da cidade, de tão grande que era, construída para ser a igreja mais vistosa da província da toscana. Toda a população estava indo para lá, com suas famílias. De longe vinha a família de Cecília, com Louis ao lado. Agora que fui notar... Cecília era linda da maneira dela, mas Louis era ainda mais bonito... Chegava a ofuscar a própria noiva.

Sentei-me em um banco um pouco distante dele, e começou a missa... que era em latim lógico. Ele ficava brincando com um terço de pérolas, e era óbvio que nem prestava atenção no que o clérigo falava. Quando deu a primeira pausa as pessoas começavam a sair... Discretamente, sai do meu banco e fui ao local marcado para nos encontrarmos.

Meu coração palpitava a mil. Tirei dos bolsos as duas alianças de ouro e o esperei. Até que depois de uns minutos ele veio. Vestia um gibão de veludo, cor azul marinho profundo... O rosto indecifrável.

-- Louis, meu amor... Perdoa-me, por favor!!! – disse segurando as mãos dele. Ele as tirou.

-- Lorenzo, eu...

-- Olha eu prometo que nunca mais irei fazer aquilo! – eu o interrompi.

Ele se escorou na parede.

-- Eu vim aqui para te buscar... Vamos fugir Louis... Juntos! – olhei firme para ele. Peguei a aliança de diamantes e mostrando para ele.

-- Enzo... Eu não vou fugir com você... – ele disse com os olhos vazios.

Fiquei um momento parado.

-- Como assim? – disse em sussurros.

-- Olha em sua volta... Sabe o que isso significa? Nós sempre teremos que nos esconder... Mentir para os outros... Fugir. – ele falou.

-- Não... Não! Não é bem assim Louis... Podemos sim ser felizes juntos... Eu posso comprar uma casinha e podemos pastorear e – falei rápido desesperado.

-- Para que? Para eu ter que passar o resto de minha vida colhendo batatas até as minhas mãos calejarem? – ele disse com os olhos lacrimejando. – Eu ficar com a minha coluna encurvada para o chão, servindo de criado para os outros?

-- Mas se você me ama... Que mal há? – falei.

-- E se nos descobrirem? Teremos o mesmo destino que Vitor e Paolo... A fogueira e a humilhação. – ele começou a chorar.

-- Eu vou te defender! – disse segurando os ombros dele.

--Não Enzo... Eu não posso viver assim... Eu não fui criado para fazer isso... – ele falou entre lagrimas. – Quanto tempo você acha que iria durar isso, hein?

-- O tempo necessário para sermos felizes... Louis você é um garoto mimado... Mas... Eu sei que por baixo de tudo isso... É a pessoa mais maravilhosa e encantadora que já conheci. – disse passando a mão no rosto macio dele. – Mas essa chama que tem em você... Tenho medo de nunca mais ver ela crepitar.

Ele tirou a minha mão do rosto dele.

-- Não cabe a você me resgatar Enzo. – ele chorou.

A raiva começou a subir minha cabeça.

-- Sempre foi um egoísta... Pensa somente em si mesmo... – disse irritado.

-- Não fala assim! Um dia entenderá os meus motivos... Saberá o porquê de tudo isso. – ele disse me olhando.

Peguei ele pela cintura o beijando com firmeza, raiva, amor... e eu não sei o que mais...

--Sabe o que é isso? É a ultima coisa que terá de mim seu fedelho egoísta. – disse apertando os pulsos dele.

-- Não fala assim Enzo... Eu... Eu te amo tanto... – ele chorava de cabeça baixa.

-- Ama... Você só ama a si mesmo e nada mais além disso. Você se ama tanto que prefere viver infeliz, a se sacrificar por um homem que te amou e amará de verdade. – disse entredentes.

-- Por favor não fala assim comigo... – ele disse arfando em meio a um choro angustiado.

-- Falo o que tenho que falar... E escreva o que estou de dizendo. Um dia irei fazer você pagar por tudo isso que me fez seu fedelho arrogante. – falei. –Todo esse amor que te ofereci, você não quis... Mas acredite você vai me pagar...

Sai de lá com o ódio entalado na garganta. No final das contas o sonho que tive se profetizou... Louis havia me apunhalado de uma forma ainda mais cruel que poderia imaginar... O tipo de dor que te envenena, destrói, aniquila, e derruba tudo o que é humano, gentil, e caloroso. Ser rejeitado por alguém que ama pode ser uma ida ao inferno sem ainda não morrer. Não é drama. É a mais pura verdade. Minha mente trabalhava em uma indagação... Amar ainda Louis com todo o meu ardor... Ou odiá-lo com toda as minhas forças.

Andei até a ponte que atravessava o rio e atirei as duas alianças para longe, querendo que meu amor anormal por ele, afundasse junto com eles no fundo do rio.

CONTINUA.

bernardodelavoglio123@hotmail.com

E ae pessoal rsrsrs... Bem estamos chegando no ponto central da história. A partir de agora, uma série de acontecimentos irá mudar o destino do "fedelho" e do Enzo. A segunda fase da história vai começar... Votem, comentem e por favor... Não me xinguem kkkkkkk... Se quiserem expressar sua repulsa pelo Louis, a vontade kkkkkkk

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Comentários

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Soube muito bem descrever os sentimentos de quando se é rejeitado pela pessoa amada: é como se sentar em um tono de gelo completamente nu e ver a vida passar a alta velocidade.

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amar ou te matar, e Louis preferiu amar mais te matando e em segredo fazendo sofrer o Enzo mais sofendo ainda mais. Pois de seu geito egoista Louis se sacrificou por ele o deixando livre pra que fosse feliz com alguma mulher pois estamos falando do seculo XVI apelidado na história como seculo da caça aos bruxos, sodomitas e homoafectivos. Amei do fundo do coração seu sacrificio Louis. Bi passivo bjssssss a voçes os dois e felicidades agora são noivos parabens mesmo

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Aguardando ansiosamente! Puxa vida... A promessa de vingança ficou perfeita. 10

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Como é uma ficção, bem que o próximo conto poderia ser a versão do Louis acerca do que aconteceu. E do porquê dele ter rejeitado o Lourenzo, seu grande amor.

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B meu querido, eu entendo a atitude do louis, ele quer proteger o amor da vida dele. foi dificil ler esse capítulo e desconfio que os proximos serão assim também mais estarei aqui firme e forte. e ai será que rola aquela doaçãoo de inspiração? rsrsrs

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Ahhhh, li. Provavelmente a Cecília esta grávida do Enzo e o Louis descobriu e para que o filho de seu amado não sofra ele prefere viver um casamento sem amor para proteger a criança... Lindo... e agora chegamos ao amar ou te matar eis a questão... já que não me amas... é melhor a morte... cara agora deu vontade de ter chegado a casa só depois que teu conto acabasse... muito bom... ansioso... ahhhhhhhhhhhhhhhh

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Antes de mais nada queria dizer que a casa me trolla d+.Eu fui dormir 1h da manhã, no caso 2h horário de Brasília, atualizando, vendo se a parte 14 tinha sido postada e nada... #chateado... agora vou ler o conto... depois posto o quão maravilhado vou ficar.

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vou ser sincera. Eu não gostei deles terem se separado... Louis eh mt divo e concerteza tem um bom motivo para fazer isso... mas o Enzo pode tbm sequestrar o fedelho no casamento....

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Ri da versão do foguinho99. To adorando o conto mesmo

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Ah! Esqueci, só mais uma teoria, Oliver está apaixonado por Enzo!!! Será???!!!

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Teoria, e se Cecília estiver grávida de Enzo, considerando a época, Louis teria um bom motivo pra não ter aceitado fugir! Uma boa solução para o futuro dos dois seria, o casamento se Louis, ele herdando o ducato, contratar Enzo como segurança pessoal e Cecília morrer no parto! Eles seriam felizes vivendo reclusos numa casa de campo ducal, ninguém os incomodariam por achar o duque Louis excêntrico por chorar ainda a morte da sua "amada" esposa Cecília!!! Viajei legal, né?!!! Rsrsrs... Tô adorando, 10 mil pravocê!

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Eu entendo o lado do Louis mais ele foi egoísta e fiquei com muita pena do Lorenzo, e estou amando a historia.

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