Janelas

Um conto erótico de Yoko e John
Categoria: Heterossexual
Contém 2894 palavras
Data: 30/05/2011 20:25:01

O ônibus é lento. Para não enlouquecer naquele trânsito, saído de um sonho do pior demônio dos mundos, fecho os olhos lentamente e penso em para onde vou. Consigo sentir o cheiro de café expresso e ouvir as conversas de estranhos, confortando meus ouvidos. Mas, o principal lá eram as janelas. Eu tinha verdadeira adoração pelas janelas que daquele lugar, se eu olhasse através de qualquer uma era imediatamente transportada para mundos que eu nunca veria: os mistérios de Agatha Christie, os amores de Jorge Amado... Era deles minha atenção. Abro os olhos em cima da parada que desceria. O barulho da vida é ensurdecedor, mas ali está meu santuário que os normais chamavam de Livraria Pontual. Entro em meu santuário de olhos fechados para receber a paz do lugar.

Férias merecidas, e muito adiadas, chegam temperadas pela e auto piedade decorrente da pergunta que atormenta os escravos nessa situação: o que fazer com todo esse tempo livre? Desacostumado com a falta de obrigações, cedi ao impulso de sair caminhando pela cidade. Excessivamente branco e mal adaptado à temperatura normal de minha região - em parte culpa do trabalho de escritório no ar-condicionado - me refugiei numa charmosa livraria que sempre apreciei à distância, mas nunca adentrei. Em meio ao cheiro de livros novos - principalmente o papel pólen, com seu aroma de biscoito de maizena – e café, me recostei numa confortável cadeira vitoriana, a folhear um livro de literatura fantástica. Apenas um caixa e três outros vendedores trabalhavam e nenhum outro cliente estava presente – acabei ganhando um café com aroma de amêndoas de brinde. O mundo era perfeito! Café quente e com sabor caro, um romance de suspense fantástico nas mãos e o conforto da poltrona e da atmosfera temperada... Ou parecia. Pois uma felina silhueta mulata passou pela porta e, então, a paz me deixou.

A benção do silêncio me faz abrir um sorriso, abro os olhos e cumprimento com a cabeça o vendedor que está na entrada. Todos ali me conheciam – "ela compra pouco mais é muito maluca", eu os ouvia comentar e sorria ainda mais. Em passos meio dançantes de pura felicidade adentrei a livraria, os cheiros, a meia luz, a ausência de vida humana tudo me deixa confortável ali. Vou à estante de suspense e, chegando próximo, com os pensamentos no meu mundo de paz e alegria, noto uma figura no mínimo incomum ali no meu santuário. Não gosto de saber que pegou a minha cadeira favorita – que abuso! Indo ao fim da prateleira, ajeito os óculos no rosto e praguejo baixinho. Meu livro dos primeiros minutos, a primeira janela que queria contemplar, estava na última prateleira. Nunca tive coordenação motora, sempre fui muito desastrada. Talvez por isso nunca tenha gostado de escadas. Na vã tentativa de fugir desse perigo, me estico e sinto o vestido florido subir mais e, como não era muito curto, imagino que o máximo de exposição é de minhas pernas. Logo desvio o pensamento para o bendito livro. Descendo os braços, olho para os lados para ver se um dos vendedores me olha e, com cara de menino "malino", dou um chute na base da prateleira e sorrindo noto que o livro que quero vai cair em minhas mãos... O problema, noto no segundo seguinte, é que ele traz outros cinco ou seis amiguinhos. Protejo a cabeça com os braços e fecho os olhos.

A forma felina ginga alegre na loja que se não é sua, deveria ser. Uma pantera de óculos, sua alegria de predadora só é perturbada pela minha incômoda presença. Invasor desajeitado, percebo que tomei seu lugar, mas ela prefere me ignorar e seguir seu caminho. Forças invisíveis, combinadas com elementos bem visíveis, me desconcentram, do livro pelo menos, e não posso evitar encará-la. Com um jeito seguro e ao mesmo tempo infantil – no bom sentido – ela se estica para alcançar um livro muito alto. Mal calculando o comprimento da veste, imagino, ela deixa a saia subir mais do que pretendia. Surpreendentes e minúsculos pêlos dourados adornavam uma coxa morrom, roliça e suculenta (senti culpa e vergonha de pensar de maneira tão vulgar). Quando despencaram livros da estante, meu corpo se levantou sozinho em sua direção, para protegê-la e ajudá-la – o animal dando lugar ao cavalheiro, muito mais honrosa posição. Quando cheguei, ela já estava agachada, juntando livros. Meus olhos, sem controle, varriam seu decote, seu pescoço e suas pernas. Seu perfume, com mistura de canela e notas cítricas, me invadiu e embriagou, mudando meu corpo. Meus pêlos arrepiaram, minha pele esquentou, meus músculos retesaram e me senti um predador pronto para a luta, a morte ou o sexo...

O desastre foi inevitável, tentando torná-lo menos humilhante me abaixo para pegar tudo o mais rápido possível – diabo de mulher desajeitada. É quando sinto a presença de mais alguém um cheiro gostoso de café, amêndoas e um perfume masculino suave imediatamente me chama atenção. Olhando para cima dou um sorriso amarelo para o estranho que vi quando entrei. "Desculpe, atrapalhei sua leitura", digo. Pegando a pilha de livros do chão, fico de pé. A vantagem da confiança é poder ser descaradamente verdadeira. Com aquele aroma enlouquecedor em meus sentidos, dou um passo para trás e olho o estranho de cima a baixo sem esconder o interesse, agora com um sorriso de canto de boca, imagino dizer: "olá estranho interessante, vamos jogar?". E o que noto do avaliar do homem é uma pele muito branca, principalmente em contrate com a minha – o que muito me atrai. Mãos longas com dedos longos que quase me fazem soltar um gemido, pois eram propensas a boas massagens, e um corpo esguio. Mas o que mais me intriga é o olhar: o homem que vi encolhido em um canto nada tinha a ver com o predador que via em minha frente. Com um levantar de sobrancelhas, espero o próximo passo daquele que se avizinhava como um bom jogo de xadrez.

Não estou acostumado a este turbihão. Começo o dia inadequado, adentro a livraria confortável, vejo essa mulata e me desconserto, sinto seu cheiro e enlouqueço... Quando nos levantamos, percebo seu olhar atento a mim, e estranhamente não me surpreendo (realmente estava fora de meu estado normal), quando a convido para um café, ela finge fragilidade ou tontura e a levo pelo braço... Adorei este sinal... Deixo-a em minha cadeira (ou dela) e sento a seu lado. Não conseguimos ficar distantes, roçando a pele dos braços em um calor elétrico e magnético. Sem palavras - não por faltarem, mas por não serem necessárias - nos comunicamos por meio olhares e sorrisos. Sabemos o que queremos e mal podemos evitar o arroubo do beijo, do toque e do nu...

A sensação causada pelo estranho era inebriante. A pele dele eletrizava a minha de forma fantástica. Minúsculas gotas de suor começam a se avolumar entre meus seios, arrepiando ainda mais minha pele em contato com o ar frio do lugar. Sem uma única palavra, mas com uma carga impressionante de sensualidade no ar, traço com as mãos o meu pescoço e faço pressão nos ombros para aliviar a tensão. Então um turbilhão de perguntas me vem à mente: “o que diabos estaria eu fazendo quase pulando no pescoço de um homem que nunca vira antes?” É quando o encaro e mais uma vez me deparo com os olhos do predador e mando o bom senso as favas como o peito arfando me aproximo lentamente dos lábios do desconhecido. Sempre com os olhos nos dele, um toque gentil é como inicio o contato. A suavidade vai se perdendo à medida que meus lábios se abrem para sugar a parte inferior dos lábios do estranho à minha frente. A cabeça gira e me transporto a um mundo de silêncio e absoluto prazer. As mãos procuram os braços e a parte de trás do pescoço do estranho, que aperto para intensificar ainda mais a sensação de entrega. As línguas se procuram e iniciam uma luta para ver qual demonstra mais tesão... De repente, se perdem as horas, o local já não interessa, o corpo formiga, a respiração acelera.

Ela está louca e eu estou gostando. Parece ignorar o ambiente e me dá o beijo mais delicado e sensual que já senti. Talvez seja o clima que se formou, mas nunca meus sentidos foram tão estimulados por um beijo, um cheiro, um toque e uma beleza como a dela. Seu hálito me puxava como maré vazante, e sua língua quente, que eu tinha medo de morder e devorar, dançava em meus lábios e me arrepiava quando tocava a ponta da minha. Não sei se todos sumiram para não nos atrapalhar ou eu somente não mais os notava, mas minha mão subiu a face interna de sua coxa, que se arrepiava e me apertava conta a outra, mas sempre abrindo-se para eu seguir adiante. Quanto a toquei, molhada e quente como um inferno cheio de pecadores suados e lascivos, ela estremeceu e gemeu, aproximando ainda mais seu corpo do meu, entregando-se e tomando-me ao mesmo tempo...

O tremor em meu corpo se intensifica. Sem conter o desejo, me retorço em seus braços, enlouquecida. Os gemidos que saem sem controle, o calor deixa meu corpo ardendo como se uma febre tomasse conta de mim. Quem era aquele estranho e que estranho poder era esse que exercia sobre mim? Meus seios latejam de vontade, os bicos intumescidos encostam nos braços dele. Sem controle, mordo seu braço para conter gemidos mais altos. Minhas pernas se abrem para que ele aprofunde seu toque de fogo. Molhada, encharcada, subjugada por meus desejos. Seus dedos que tocam em uma parte tão sensível de meu corpo que fazem chamas de puro fogo lamberem meu corpo, me deixando zonza de prazer.

Me apercebendo da loucura que fazemos, olho ao redor e percebo um debate atrás do balcão. Não nos olham e parecem não ter percebido, mas quero mais que isso, e aqui não será possível... Com sua língua em minha boca, o braço em sua cintura e outra mão dentro dela, a puxo em minha direção deixando-a em pé num único movimento harmônico e a assusto - mas não a machuco... Ninguém nos olha, o ângulo das colunas e prateleiras nos favorece... Guio-a para longe do alcance dos olhares possíveis, para prateleiras mais escondidas. Ela quer ser controlada, ela gosta de ser meu objeto, e a levo como minha para onde quero. Se continha até agora, mas se desvencilha por um segundo de meu abraço e enfia a mão em minha calça, dominando meu orgulho e empatando o controle, com um olhar misto de raiva e tesão. A dominação em mão dupla não é nada má e sinto o toque de sua mão delicada e inicialmente fria como um carinho em minha própria alma. Puxa meus cabelos com a outra mão e leva minha boca ao seu seio, por sobre a roupa, e mordo de leve o bico...

Se havia deuses do desejo, todos estavam ao nosso redor naquele momento. Sinto um poder luxuriante ao notar o latejar daquele homem em minha mão, ao mesmo tempo em que me deixo livre para que ele note o que aquela boca em meu seio me faz. Levo os lábios à sua nuca, ali exposta para mim. O ritmo de minha mão dentro de sua calça segue o mesmo ritmo que meus lábios em sua nuca. Em poucos instantes a tortura mútua a que nos submetemos só aumenta, ele me consome com sua boca e mãos eu demonstro minha lascívia com os meus gemidos em seu ouvido, no ritmo cadenciado de minha mão

Não mais podendo me conter, principalmente após as lambidas e mordidas em meu pescoço, me desvencilho dela e a viro de costas... Roçando meu corpo no dela, devolvo as mordidas e beijos em seu pescoço, como um galo a cruzar, enquanto ergo seu vestido... Ela faz um ar de agrado e orgulho pelo meu movimento, num sorriso safado – apesar de frustrada por não estar mais no meu controle, se deleita com a dominação. Revelo e admiro seu curvilíneo rabo mulato, perfeito e achocolatado. Faço menção de mordê-lo, mas ela não me deixa descer e, de costas mesmo, abre minha calça num movimento tão rápido que eu não poderia reproduzir e recebe meu calor com o seu próprio... Tento, num lampejo de raciocínio, sacar uma camisinha que há tempos preenche um bolso que mal checo, mas ela não permite e me enfia em si... A apertada e quente aspereza dela me inflama e viro bicho... Áspera no início e depois macia, resistente e depois molhada, a cada estocada... Mal posso crer nesta loucura, enquanto a invado, agarrando seus seios e puxando-a contra mim, e ela geme e grita...

Com o corpo em chamas e com um comportamento de uma fêmea no cio, me sinto dominada pela mais pura luxúria, sentindo o dentro de mim me preenchendo com a prova do seu desejo. O latejar de sua masculinidade me alucina, me sinto derreter, escorrendo pelas pernas. Nossos corpos se fundem cada vez mais e o som das estocadas me deixam surda. Mas, aos poucos, um barulho insistente me perturba os sentidos e abro os olhos, notando, mortificada, que é um dos vendedores com cara de poucos amigos que, tentando manter a educação, pigarreia para chamar nossa atenção. Meu acompanhante, entregue à nossa aventura, não nota nada até que eu, em um movimento brusco, mudo nossa posição e o coloco de costas na pilastra que estávamos. Arfando de tesão e frustração, o olho nos olhos com o corpo colado ao dele. como proteção para ambos e no mesmo movimento fluido de antes guardo seu orgulho dentro de sua calça e lhe dando uma piscadela digo "preciso de um café" e sigo para a cafeteria...

A interrupção não me agradou em nada. Apesar de inicialmente atônito, tanto pela intromissão do vendedor quanto pela saída dela, dei um passo largo em sua direção e a puxei pelo pulso, virando-a de volta para me olhar. Enquanto ela tentava se ajeitar, graciosa, eu ignorava completamente meu estado, sem o menor esforço para arrumar as partes visivelmente desarrumadas. Disse baixinho no ouvido dela: "não vai!", num misto de aviso, ordem e súplica. Ainda não me passavam pela cabeça as preocupações mundanas que certamente me viriam depois (sem camisinha? o que faço?...), apenas sei que todo o meu corpo não quer ficar longe e ela parece ler a mensagem. Ela se afasta mais devagar, sem tirar o olho de mim. Alterna olhares entre meu rosto e a parte de mim que fez parte dela por alguns minutos – e ainda não estava satisfeita. Seu gingado felino traçou ondas ainda mais lentas e hipnóticas quando ela seguiu de costas, me provocando de propósito, para longe de mim. Fechei a calça com ele queimando lá dentro, muito mal disfarçado pela sua excitação.

Com o corpo tremendo, mas um sorriso diabólico nos lábios, me viro em direção à cafeteria num rebolado puramente instintivo, como uma dança para chamar meu macho para perto. Ao chegar, sento com o corpo pesado pelo desejo não satisfeito e, olhando para a simpática vendedora, que me olha como se eu tivesse acabado de ser vítima de um acidente, peço ainda com a voz rouca de desejo "um capuccino médio e um copo de água... a água pode me dar antes". Ela, mais que depressa, se afasta para providenciar o pedido e aproveito o momento para arrumar os cabelos em desalinho e a roupa que seguira o mesmo caminho. Enquanto penso na loucura que fiz alguns minutos atrás, o coração acelera, a boca seca e desce a prova de meu desejo entre minhas pernas mais uma vez. Quando o copo d’água finalmente chega, devoro como alguém que se perdera no deserto – e meu deserto, penso sorrindo, era do mais límpido desejo.

Depois disso tudo, ela parece querer me dar um gelo. Não parece arrependida, mas não quer me ser tão fácil. Sento ao seu lado, surpreso por ela já sorver um capuccino (quero sentir estes lábios com sabor de café e chocolate), e digo em seu ouvido: "quero mais". Ela para de beber, com a xícara ainda próxima à sua boca. Notei seu sorriso satisfeito e orgulhoso, mesmo fatal, seguido de um suspiro de excitação e alívio. Toquei sua orelha com minha boca e assim que meu hálito quente tocou sua pele, vi-a estremecer e arrepiar. Pus a mão em sua coxa que, receptiva, abriu e rapidamente fechou – o corpo chamou, mas a mente lembrou que estávamos à mesa e à vista novamente. Ela pousa a xícara sobre a mesa num ato quase solene, me encara e me diz:

Com os olhos nos dele, a pele arrepiada e a alma em brasa, lhe proponho: "não podemos mais usar meu santuário, vamos sair daqui". Com o café quase intocado, dou um último gole e chamo a moça para pagar. Retiro de minha bolsa dinheiro mais que suficiente para conta e deixo em cima da mesa, dizendo à moça para ficar com o troco. Levantando-me sempre com os olhos nos dele, sem pensar muito para que o senso da realidade não me volte. O pego pela mão e saio porta a fora sem olhar para os presentes na livraria. Ao sair na rua, o infernal barulho da vida me volta aos ouvidos e, encarando o estranho, faço a pergunta que pode mudar o rumo de muita coisa: "para onde?"

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