No morro

Um conto erótico de youngdad
Categoria: Homossexual
Contém 7822 palavras
Data: 25/03/2010 10:50:00

No morro

A maioria das pessoas quando ouve falar em trabalho social em comunidades carentes não dá muito valor a isso. Ou pensam que é uma babaquice que não leva a lugar nenhum ou acham que se está inserido em alguma ONG apenas procurando levantar uma grana em proveito próprio, claro.

Não é assim, ou pelo menos não é assim com todos. O meu caso por exemplo. Mas antes vou me descrever. Me chamo Aylton, tenho 28 anos e sou gay. Sou alto, bonitinho (o suficiente para ser paquerado por homem e por mulher), com uma aparência ainda de garotão apesar da idade. Sou branco de cabelos lisos e olhos castanhos. Trabalho numa empresa de consultoria de informática e me dedico a um trabalho assistencial a jovens numa favela do Rio de Janeiro. Mantenho há quatro anos um namoro muito legal com o Marcinho, um estudante de direito de 20 anos que é daqueles que acha o meu trabalho uma embromação e, quando muito, me leva a conseguir algum garoto mais gostosinho para transar. Mas ele está errado. Nunca, mas nunca mesmo, paquerei garoto na favela. E olha que rolam uns “tesõeszinhos” por lá (paquerar eu não paquero, mas olhar eu olho porque não sou cego).

Trabalhar em favela é foda, é preciso gostar muito do que se está fazendo. Isso porque se trabalha num meio hostil, por mais que a gente queira fazer o bem. Numa favela convivem quatro tipos de pessoas: o traficantes, os caras das milícias, os policiais (PM’s todos) e a maioria composta de pessoas honestas e trabalhadoras mas que, por todos os motivos, têm uma relação próxima e muito íntima com os três primeiros grupos, aliás com os dois primeiros porque com a polícia eles nem passam perto. Por mais honestos que sejam eles colaboram com os traficantes, seja por medo, seja por gratidão ou porque conhecem eles desde meninos assim como as respectivas famílias. Com os pertencentes às milícias eles pagam proteção e acabou-se. Assim, por mais que a gente tente ajudar não se recebe apoio de ninguém. O trabalho que eu e um minúsculo grupo de colegas fazemos tem como foco a música (musica mesmo, não é funk), ao qual se alia o estudo, condição indispensável para se pertencer ao grupo musical. Comecei isso inspirado num puta trabalho na mesma linha desenvolvido há muitos anos e com um enorme sucesso nas comunidades pobres da Venezuela (quem estiver interessado procura no Google alguma coisa sobre a Orquestra Jovem da Venezuela, garanto que é do caralho). As aulas de musica são feitas no regime de quem sabe mais ensina a quem sabe menos, mas eu consigo, muito de vez em quando, que alguns professores subam o morro para dar uma aulinhas. Já consegui também que instrumentistas estrangeiros venham conhecer o nosso trabalho. Os professores brasileiros vão depois da gente muito pedir, quase implorar e com alguma chantagem também. Os estrangeiros vão por curiosidade. De qualquer maneira a coisa está indo, tanto que no Natal retrasado demos um concerto e no ano passado outro. O primeiro foi uma merda absoluta, o segundo só uma merda, troço quase aceitável. Mas o importante é que as famílias dos moleques foram assistir. Todas arrumadas, perfumadas e orgulhosas dos meninos. As aulas normais são dadas pelas escolas publicas que ficam no pé da favela. Essas não nos ajudam em nada. Ao contrário, se recusam inclusive a nos dar as informações sobre o aproveitamento dos alunos, o que fazem depois de muita ameaça de ir fazer queixa às autoridades. Dos grupos acima o pior são os policiais. Os motivos deixa pra lá porque estou aqui escrevendo um conto e não fazendo denúncia. Quanto aos traficantes eles nem tomam conhecimento do nosso trabalho e no geral não enchem o saco. As milícias já tentaram vender proteção mas eu consegui que eles baixassem o facho, inclusive pedindo, na maior cara de pau, uma graninha para ajudar (o que eles não deram, claro). Mas eu conheço todos eles e quando acontece de eu cruzar com algum (o que é difícil porque os chefões ficam lá em cima do morro e nunca descem) cumprimento eles na boa e muito de vez em quando algum responde ao cumprimento. Nosso grupo já tem 36 alunos com idades que vão dos dez até os dezessete anos. Entre eles tem dois que, além do estudo, nos ajudam na administração do troço. São eles o Tobias e o Edgar, de apelido “Anjinho”, o apelido se justificando porque ele é lourinho, de cabelos encaracolados, cara de anjo barroco mesmo. Os dois tem 16 anos e são altos, fortes, bonitos, sendo que o Anjinho é lindo pra caramba. Moleque em favela veste uniforme. Quero dizer com isso que todos se vestem igual: bermuda (com cueca tipo sunga por baixo), tênis sem meia e, quando está muito frio, camiseta sempre com estampa na frente. Alguns se diferenciam: quando um pinta de tênis novo e limpo pode escrever que entrou para o tráfico. Quando isso acontece com algum dos nossos alunos eu chamo o cara e tento ter uma conversa com ele, dizendo que se continuar traficando tem que ir embora. A reação é sempre a mesma: preferem ir embora e saem da conversa fazendo ar de macho. Tem uma garotinha também. Ela se chama Luzia e é uma mulatinha de 13 anos, esperta que nem um azougue, linda de morrer e cujo corpo promete ser um espetáculo, nível destaque de escola de samba.

Normalmente eu saio da favela ainda dia claro para evitar algum susto, mas numa noite eu fiquei até mais tarde fazendo um relatório foda de chato e grande que ia justificar um pedido de grana que eu estava negociando com um vereador super amigo do prefeito. Já tinha resolvido que ia dormir na minha salinha para não ter que descer o morro no escuro, tanto que jantei uns sanduíches que eu tinha mandado comprar na birosca do seu Manuel, um português ladrão pra caramba. Estava lá eu brigando com o teclado do computador que se recusava a escrever a letra ‘a’ minúscula, quando entra a Luzia aos berros: “Aylton, Aylton! Vem correndo que deram um tiro no Tobias!” Eu levantei e segui a garota. Num espaço perto, logo acima da escola, me deparo com um montão de gente. Abri caminho empurrando os caras e vejo o Tobias deitado no chão, com um buraco de bala no lado da cintura de onde saía uma sangueira danada. Segurando. Segurando não, agarrando a cabeça dele estava o Anjinho chorando pra cacete, pedindo aos berros ao Tobias que ele não morresse. Me abaixei e vi que a coisa estava preta porque o moleque já estava com aqueles olhos paradões que prenunciam a morte. Respirava ofegante, feito cachorro cansado. O Anjinho fazendo aquele esporro. Mandei que ele calasse a boca e que não sacudisse muito o Tobias para não piorar as coisas. Ele se calou, mas aproximou a cara da do amigo, deu um beijinho nela e ficou ali de cara colada com o moleque. Pausa para explicar uma coisa. Na favela os traficantes sempre mantêm um médico, normalmente um cara que já tinha feito alguma cagada e que não podia exercer mais a medicina. Fazem isso porque se nego da favela aparece machucado em hospital publico, salvo nos casos de braço ou perna quebrados, imediatamente é interrogado pela polícia e aí já viu... Assim mantêm o “médico” lá, a disposição deles, e que tenta quebrar o galho quando rola tiroteio com outra gang ou a policia e os caras se ferem. Material para a cura é coisa que não falta porque eles vivem assaltando hospital. Assim não pensei duas vezes. Deixei os moleques e mais a Luzia lá e subi o morro em direção à laje onde ficam os traficantes. Fui correndo antes que a notícia do ferimento do menino se espalhasse e viesse a polícia. Errei o caminho pra caralho mas acabei chegando no lugar. Veio um negão imenso segurando uma arma igualmente enorme que enfiou no meu peito dizendo: “Que merda é que o chupador de flauta quer aqui?” Eu aí, cheio de adrenalina, mandei: “Não fode, vim falar com o Ratão (Ratão é o chefão do tráfico)!” E ele: “Mas não vai falar, se larga enquanto é tempo.” E eu: “Que tempo que merda nenhuma, vou passar. Se quiser atirar foda-se, atira, porra!” E assim fiz. Nunca entendi como eu tive coragem de fazer o que eu fiz. Passei pelo negão e fui em direção a uns caras que estavam sentados no chão na porta de uma casa (não era barraco, era casa mesmo) todos bebendo cerveja e fumando uns baseados. Junto com eles estava o tal Ratão. Esse, ao contrário dos demais que eram fortes pra caramba, era magro e baixinho, com cara de rato mesmo. Fui nele direto: “Ratão, me ajuda pelo amor de Deus!” Ele sem se mexer perguntou: “E o que é que o mestre de bateria dos babacas quer?” Eu respondi: “Manda o médico lá em baixo porque acertaram o Tobias e ele está morrendo.” E ele, sem se mexer do lugar e com um sorriso escroto estampado na cara: “E quando vai ser o velório? Vai ter comilança?” E eu: “Cara, é o Tobias, irmão do Cleto!” Eu sabia que o Cleto era amigo do Ratão desde que eles nasceram, mas o Cleto nunca quis nada com o tráfico, tinha saído da favela e agora morava em São Paulo, como sabia também que os dois continuavam amigos-irmãos até hoje, tanto que quando o Ratão ia a São Paulo ficava na casa do Cleto. Nessa hora ele se levantou (todos levantaram juntos): “Me leva até lá!” E eu respondi, excitado pra caramba: “Cara, o moleque não precisa de voce, manda a porra do médico, caralho!” Ele “obedeceu” e virando-se para um cara mandou: “Vai buscar o Aristides.” E me olhando com uma cara preocupada mandou: “Não vai adiantar nada porque o porra do Aristides saiu daqui de porre e doidão.” E eu: “É melhor ele do que voce ou eu!” E completei, em direção ao cara que se afastava: “Diz pra ele que a gente pode ver o buraco da bala e ta saindo sangue pra cacete.” O cara se largou e eu fiquei ali de frente para o Ratão que perguntou: “Foi briga? Quem acertou ele?” Eu respondi: “Não sei de porra nenhuma, não deu tempo de perguntar.” E o Ratão: “Quero saber quem foi, se o moleque morrer o cara não passa dessa noite.” Eu não respondi. O médico demorou uma eternidade mas chegou. Trazia uma maleta dessas de médico e um saco preto de lixo, com uma porrada de coisa dentro. Aí o Ratão falou: “Vamos!” E eu: “Vamos é o caralho. Vai o Aristides só. Se voce pintar lá embaixo vai vir até o comandante da Policia Militar e a Globo inteira. Voce vai acabar levando um tiro. Estou cagando pra voce, quero é que o menino não morra. Mas fica frio que quando tudo acabar eu subo e digo os troços para voce.” E ele: “Subir voce não vai mais, mas quando tudo acabar dá um berro dizendo se o Tobias morreu ou está vivo que eu vou saber.” Peguei o Aristides pelo braço, o saco preto e fui descendo. Quando chegamos o Tobias continuava no mesmo lugar com o Anjinho agarrado nele, chorando pra caralho. Ao lado estava a mãe do Tobias, aos berros, dizendo que “Jesus é Rei” e que ia salvar o filho dela. O Aristides se aproximou, vestiu uma luva, meteu o dedo no buraco da bala e depois a boca, chupou e disse, com uma certeza absoluta: “É veia e não tem gosto de órgão. Vamos tirar ele daqui.” Eu tinha agarrado o Anjinho e afastado ele do amigo. O lourinho falou baixinho pra mim: “Fui eu, Aylton, fui eu.” E eu: “Tudo bem, Anjinho, depois voce me conta. Agora vamos pegar ele e levar para a minha sala que é mais perto. Ajuda aqui.” Não sei de onde apareceu um lençol no qual a gente pôs o garoto e com o Anjinho segurando numa ponta e eu na outra levamos o Tobias para a minha sala colocando ele na minha mesa que eu pedi a Luzia para tirar os papeis e o computador. O merdinha, que estava comprido pra caramba, ficou com as pernas quase todas pra fora. O Aristides desabotoou a bermuda dele e arriou a sunga, deixando ele pelado. Nessa hora eu mandei a Luzia sair e ficar na porta para não deixar ninguém entrar. Ela me olhou com uma cara maliciosa, mas foi. O Anjinho voltou para a cabeça do Tobias e voltou a encostar a cara na cara dele, chorando sempre. O carinha já não reagia, estava branco como papel. Aí o Aristides começou a trabalhar dizendo o que estava fazendo: “A bala entrou pela frente e saiu por trás, não fez nem estrago.” Meteu um aparelho de pressão: “Está quase morto.” Meteu a mão no saco, começou a escolher um pacote de sangue. Perguntou: “Alguém sabe se ele é positivo ou negativo?” O Anjinho levantou a cabeça e respondeu imediatamente: “É negativo igual ao Cleto, irmão dele.” O Aristides escolheu um saco de sangue, meteu um tubinho, uma agulha, e procurando uma veia no braço dele espetou o moleque. Aí procurou em volta um lugar para pendurar o saco de sangue. Não encontrou nada e disse para o Anjinho: “Moleque, sai da cabeça dele e vem aqui e fica levantando o saco de sangue o mais alto que voce puder.” O Anjinho fez. Depois pegou numa garrafa de soro e espetou ela no tubinho e mandou que o garoto segurasse do mesmo jeito. E lá ficou o lourinho, com os dois braços levantados, e eu vi que ele tinha cabelo pra caramba no sovaco. O Aristides abriu a maleta e tirou uma porção de instrumentos e começou a mexer no buraco da bala, indo cada vez mais fundo. Numa hora falou: “Ele ainda não está sentindo nada porque ele está quase morto, mas vai começar a melhorar com a transfusão e aí vai começar a sentir uma dor muito forte e a gente não pode dar anestesia para ele porque a pressão está baixa pra cacete. Aí esse cara vai ter que mostrar que é macho...” O Anjinho atalhou: “O Tobias é macho pra caralho!” O medico nem ouviu e continuou: “... para agüentar uma dor foda. A gente vai ter de segurar ele.” E eu: “Deixa que eu seguro e se precisar mais alguém deixa que eu chamo.” Ele não respondeu e continuou a futucar o buraco. Numa hora o Tobias sacolejou o corpo e disse um ‘ai” fraquinho. O Aristides comandou: “Segura o corpo dele com força!” Eu dei um berro para a Luzia: “Garota, pega alguém forte aí!” Ela chamou alguém e o seu Neto, um carpinteiro boa praça pra caramba e um touro de forte entrou. Eu falei que ele segurasse o corpo do Tobias com força. O Tobias começou a berrar de verdade. O Aristides continuava a futucar. Numa hora parou, foi no saco, trouxe um outro pacote de sangue e substituiu o anterior que tinha esvaziado, enquanto o Anjinho aproveitava para descansar o braço. Depois segurou no pacote e levantou o braço novamente. Eu segurava o Tobias de um lado e o seu Neto do outro. Eu aí vi que o Tobias, apesar de ter somente 16 anos era pentelhudo pra cacete e tinha um pau enorme que mole como estava era mais comprido do que um palmo de mão fechado. E grosso pra caramba. O saco e as bolas eram igualmente grandes. Quem notou e falou alto foi o seu Neto: “Caramba, como esse moleque é culhudo!” Eu tive que dar uma risadinha. Bem, o Aristides trabalhou, o Tobias sofreu e o Anjinho suava com o esforço de ficar com os braços para cima. Até que ele virou o Tobias meio de lado, meteu um tubinho no buraco da saída da bala e deu uns pontos fechando o buraco. Fez o mesmo com o buraco da frente, mas sem o tubo. Aí falou para mim: “Pode largar, ele não vai se mexer mais. Vamos puxar essa mesa para perto da parede para o sangue e o soro poderem ficar pendurados na parede. Tem dois pregos e um martelo aí?” Eu fui numa das gavetas e fazendo a maior bagunça arranjei dois pregos e um peso de papel (que tinha pertencido ao meu avô) de metal super pesado. Encostamos a mesa na parede e metemos os pregos na parede. O Aristides falou: “Morrer ele não vai mais, mas vai ter um febrão da peste. Não dá remédio. Aliás não dá nada para ele, nem água, mesmo que ele implore. Arranja um balde, enche de gelo e um pouco de água e vai passando um pano com água gelada no corpo dele. Vou ficar mais um pouco aqui até esse pacote de sangue acabar e eu vou pendurar mais um. Vou deixar mais um e aí acaba essa história de sangue.” Quando o pacote que eu vou deixar acabar voce mesmo troca. Tem cuidado apenas de saber o tempo que o sangue goteja. É fácil. Vai aqui nessa torneirinha e vai regulando: uma gota, conta dois e outra gota. A mesma coisa com o soro. Mesmo depois que o sangue acabar o soro continua. Amanhã de manhã vai numa farmácia e compra mais soro.” Aí procurou uma ampola na maleta e enchendo uma seringa deu uma injeção no tubo, explicando que era antibiótico. Arrumou as coisas dele na maleta e sentou-se no chão. Meteu a mão no bolso e tirou um baseado enorme que ele acendeu. Eu aí, antes que o Aristides ficasse doidão ou dormisse, perguntei: “O senhor garante que o Tobias não vai morrer?” Ele olhou para mim, riu e disse: “Garanto. Não parece, mas eu sou um puta médico.” Nesse momento fui até a porta e berrei para a meia dúzia de caras que tinha ficado por ali: “O TOBIAS NÃO VAI MORRER!!!!!!!!” Berrei porque tinha sido a ordem que o Ratão tinha me dado. A mãe do moleque que estava sentada na soleira se levantou e quis entrar. Eu não deixei, mentindo: “Agora não, Da. Carmem, o médico ainda não acabou.” Voltei para dentro. O Anjinho tinha voltado para a cabeça do Tobias e estava fazendo carinho nela. Eu chamei ele. Ele veio e eu mandei que ele me contasse o que é que tinha acontecido. Ele ia começar a falar quando ouvimos um barulho e o maior mau cheiro invadiu a sala. O Aristides riu: “O organismo dele está se limpando.” O Tobias tinha se cagado e se mijado todo. Ficamos todos sem saber o que fazer. O Aristides mandou: “Porra, vão limpar o moleque ou vão deixar ele todo sujo de merda e mijo? Arranja um lençol limpo.” O Anjinho se adiantou: “Deixa que eu limpo.” Foi no banheirinho que dava para a sala, veio com um pano molhado e cheio de sabonete e afastando as pernas do Tobias começou a limpar ele. Eu aí fui até a porta e falei: “Da. Carmem, trás um lençol.” Ela ia começar a chorar mas eu adivinhei: “Não é para enrolar ele porque ele está bem, é apenas para trocar o lençol que a gente trouxe que está todo ca... digo todo sujo de sangue.” Ela se levantou e logo voltou trazendo um lençol que me entregou. Eu entrei, cheguei no Aristides que estava lá chapadaço encostado na parede com um sorriso de besta na cara e pedi: “Aristides, ajuda aí a gente trocar o lençol.” Ele se levantou. Engraçado que ele estava completamente doido mas quando levantava parecia que tudo tinha passado. Mandou que eu e o Anjinho ficássemos segurando o lençol numa ponta enquanto ele e o seu Neto seguravam na outra. Aí ele foi enrolando o lençol, bem apertadinho. Quando terminou falou para mim: “Levanta bem devagarinho a cabeça dele.” Eu levantei e ele desenrolou uns dois palmos de lençol e colocou a parte enrolada na nuca do moleque. Aí mandou: “Cada um de um lado levantem os ombros dele.” Seu Neto e eu fizemos isso. Ele foi desenrolando o lençol por debaixo do Tobias. E foi assim até esticar o lençol todo, com a maior mestria, reconheça-se, e ainda sobrou lençol para ele cobrir as pernas e os culhões do Tobias. Quando acabou, olhou para o sangue e para o soro, trocou os dois e foi indo. Da porta falou para mim: “Amanhã eu volto.” E sumiu. Eu aproveitei, cheguei na Da. Carmem e disse: “Entra, Da. Carmem.” Ela entrou, foi no Tobias. O moleque estava de olhos fechados, mas quando ouviu o barulho abriu os olhos. Viu a mãe e deu um sorriso. Ela ia segurando na cabeça dele, mas eu não deixei: “Não pode mexer nele, Da. Carmem. Mas ele está salvo e passando bem. Agora a senhora vai para a sua casa que eu e o Anjinho vamos ficar aqui porque a gente tem que dar uns remédios para ele. Juro para a senhora que se acontecer alguma coisa eu vou lá chamar a senhora. Agora vai porque a senhora tem os outros meninos pra cuidar.” Ela hesitou um pouco mas apertou o meu braço, balançou a cabeça afirmativamente e se largou. Aí eu me virei para a Luzia que continuava na porta como um guarda suíço, apesar de não ter ninguém mais lá fora, e falei: “Vai para casa, Luzia. Amanhã cedinho voce volta.” Ela deu uma olhada de longe no Tobias, um olhar cúmplice para o Anjinho e se largou também. Ficamos o Anjinho e eu sozinhos. O lourinho recomeçou a chorar. Eu abracei ele (o toque do corpo dele era espetacular) falando: “Não chora, moleque. Seja o que for que tenha acontecido não foi de propósito, eu tenho certeza. Agora ele não vai morrer, então encontra um canto, se encosta e tenta descansar que eu fico de olho no Tobias. Depois a gente troca.” Sem parar de chorar ele se encostou numa parede. Mas moleque é moleque, logo pegou no sono. Olhei no relógio. Eram duas da manhã. Aí me lembrei: peguei o celular e liguei para casa. O Marcinho atendeu no segundo toque: “Já sei. Ta fodendo com um moleque daí, possivelmente com aquele lourinho que é um tesão, seu filho da puta!” E eu, com a paciência que só o cansaço explica, mandei, super calmo: “Não foi nem com ele, mas deram um tiro no Tobias e ele quase morreu. Está tudo bem agora mas eu não vou para casa. Amanhã eu te conto tudo. Foda-se e durma bem.” E desliguei o telefone.

Fiquei sentado numa cadeira de olho no sangue e no soro. Não conseguia pensar direito, mas não conseguia esquecer de duas coisas: dos culhões do Tobias e do corpo forte e macio do Anjinho. O meu pau ameaçou de endurecer. Estava nesse estado letárgico-pornográfico quando ouço um barulho lá fora e a porta se abrir com estrondo. Era o Ratão que cercado de bandido armado até os dentes entrou falando alto: “Cadê o moleque!” E eu: “Fala baixo, porra, para não acordar ele. Aliás se larga para a policia não aparecer!” Ele nem deu bola e foi na direção da mesa. Nessa hora o Anjinho de um pulo se levantou do chão, se ajoelhou na frente do Ratão e chorando alto mandou: “Fui eu, seu Ratão, fui eu, mas foi sem querer!” O Ratão segurou ele pelo pescoço: “Foi voce que deu um tiro no meu sobrinho, seu merda? Conta como foi, antes de morrer.” E eu: “Porra, Ratão, primeiro fala baixo para não acordar o Tobias. Depois ouve com calma o que o Anjinho quer te contar. Se depois voce vai matar ele ou não, é problema de vocês. Mas uma coisa é certa: aqui dentro voce não vai matar ninguém!” De onde eu tinha tirado aquela macheza toda eu confesso que eu não sei. Nem o Ratão que, surpreso com a minha reação, mandou: “Fala, moleque, e vê se dá um jeito de salvar a sua vida.” E aos prantos, com a voz trêmula, o Anjinho começou: “A gente estava brincando de bandido e policia com uma pistola que me deram. Um troço velho e todo enferrujado. Aí numa hora eu encurralei o Tobias e apertei o gatilho e a porra deu o tiro e o Tobias caiu. Foi isso.” O Ratão: “Quem te deu a arma?” Ele respondeu “O Tico, filho do seu Carlos da padaria.” E ele: “Onde está a porra da arma?” E o Anjinho: “Não sei, seu Ratão. Mas eu nunca ia matar o Tobias. Eu sou amigo dele e ele é o meu maior amigo, ele é meu irmão para vida a toda. Nunca ia matar ele. A gente nunca brigou na vida toda da gente. A gente até torce para o mesmo time (argumento foda, esse). Se o senhor vai me matar diz antes que o senhor acredita em mim para eu morrer em paz!” Nessa hora o Ratão olhou para mim e deu um riso, um riso de dentes podres e faltantes, e disse para o Anjinho: “Tudo bem, eu acredito e não vou te matar. Você vai ter de se virar é com o Cleto...” O Anjinho interrompeu: “O Cleto sabe que a gente se ama.” O Ratão parou: “Se ama? Que porra é essa de macho se amar?” O Anjinho, vermelho até a raiz dos cabelos: “Quero dizer, se gosta pra caralho, o Cleto sabe disso.” Nessa hora o Ratão se desinteressou do moleque. Foi até perto do Tobias, se curvou e deu um beijinho na testa dele e foi em direção à porta. Na soleira parou e falou alto para que todos ouvissem: “Chupador de flauta, voce chupa flauta mas é macho e foi essa sua macheza que salvou a vida do Tobias e disso eu não vou esquecer.” E foi embora. O resto da noite ficamos o Anjinho e eu nos revezando tomando conta do Tobias. Quando era minha vez o Anjinho caía no sono, quando a era vez do Anjinho eu ficava encostado na parede porque não tinha jeito do meu sono vir. Assim vi que o lourinho depois que dava uma olhada no soro, chegava perto do amigo fazia um agrado bem delicado na bochecha ou na testa dele e falava uns troços baixinhos ao que o Tobias dava um sorrisinho.

Amanheceu. Lá pelas sete horas da manhã o Aristides apareceu. Todo limpo, até de barba feita. Chegou no garoto tirou a temperatura dele, olhou nas duas cicatrizes. Pegou num papel escreveu o nome de uns remédios e o jeito de dar, tirou do bolso a ampola de antibiótico que ele aplicou novamente no tubo que vinha do soro. Depois falou: “Manda comprar mais cinco ampolas de soro, esses remédios e um termômetro. Ele agora está com 41 graus de febre. Fica passando a água gelada no corpo dele, principalmente na cabeça. Fica controlando a febre. Enquanto ela não chegar a 38 ele não pode comer nem beber nada, mas passa um algodão molhado nos lábios dele. Depois dá uma sopinha de batata bem ralinha. Por enquanto deixa ele aí porque ele ainda vai se cagar e se mijar mais umas duas vezes. Então arranja mais lençóis, ou melhor, manda comprar umas dessas fraldas para adulto e tenta vestir nele. Não se preocupa porque ficar em cima dessa mesa dura é foda mas ele está tão fodido que nem está sentindo nada. De noite eu volto. Isso se não der alguma merda de tiroteio e ninguém se ferir lá em cima e precisar de mim. Mas mesmo que eu não venha está tudo bem.” Não esperou a minha resposta ou alguma pergunta e virando as costas se mandou. Mal ele saiu eu perguntei para o Anjinho: “Cara, voce consegue cuidar do Tobias como o doutor mandou?” Ele respondeu: “Eu prestei atenção em tudo. Pode ficar descansado que eu não vou sair um minuto do lado do Tobias. Para vestir e trocar a fralda a Luzia me ajuda. Eu aí resolvi fazer graça: “Toma cuidado porque se ela olhar os culhões do Tobias é capaz dela ficar apaixonada.” Ele deu a primeira risada: “A Luzia conhece os nossos culhões desde quando eles eram sem pelo e minúsculos como uma minhoca.” Eu ri também e completei: “Os do Tobias eu vi. E os seus? São cabeludos e grandões também?” Ele segurou a parada: “Um dia eu te mostro.” Eu mandei: “Então eu vou descer. Vou na minha casa tomar um banho e pegar dinheiro no banco para pagar os troços na farmácia que eu vou comprar fiado agora e vou pedir para trazerem até aqui. Dentro de uma hora no máximo eu estou de volta. Qualquer merda telefona para o meu celular.”

Quando eu voltei, mais de uma hora depois, o Anjinho e a Luzia estavam lá ao lado do Tobias. A febre do moleque tinha baixado mas estava ainda em 39 graus. Ele vestia a fralda e não estava mais pelado, portanto. O Anjinho contou que tudo estava bem e só duas coisas chatas tinham acontecido: “A Da. Carmem esteve aqui e teimou de levar o Tobias para casa e queria dar uma canja bem forte para ele (no morro doença e canja são coisas que andam juntas). Ela teimou, eu teimei e ela desistiu e se largou. Veio a polícia também, aquele PM gordo e escroto, que olhou tudo aqui dentro e ia começar a fazer pergunta mas nessa hora o Tobias se cagou todo e fedeu pra caramba e o cara se largou. Dei os remédios direitinho e troquei o soro na hora que tinha de trocar. O Tobias com muito esforço disse uma frase pra mim: “Que merda heim?” e voltou a dormir.”

Pulando coisa. O Tobias foi melhorando aos poucos. Acabamos optando que ele não fosse para a casa dele que era um cômodo só cheio de moleque. Arranjamos um catre e ele ficou deitado sala. O Aristides veio todos os dias, sempre às sete da manhã, para examinar o Tobias. O Anjinho não saiu um minuto do lado do Tobias. Isso não é figuração: não saiu mesmo. Comia sanduíche, mijava e cagava no banheirinho, dormia no chão. Não trocou de roupa. Depois de um tempo eu falei para ele: “Anjinho, voce tem de tomar banho e trocar de roupa, voce está fedendo pra caramba. Vai lá que eu fico cuidando do Tobias.” Ele respondeu sério: “Enquanto o Tobias não se levantar, daqui eu não saio. Foda-se se eu estou fedendo.” Eu aí dei uma idéia: “A Luzia sabe onde é a sua casa, não sabe?” Ele respondeu que ela sabia. Eu então completei: “Então pede para ela ir pedir ao seu pai uma muda de roupa para voce e banho voce se vira e toma aqui mesmo no banheirinho.” Ele respondeu com uma cara triste: “Pedir ao meu pai não rola porque ele vive de porre, mas eu explico para ela onde apanhar uma bermuda e uma sunga para mim.” E assim foi feito. Mais tarde, depois que a garota já tinha saído ele ficou pelado e foi no banheirinho com um balde de água.

A visão do Anjinho nu foi inesquecível. O merda era perfeito. Não tinha um só pelo no corpo, salvo os pentelhos que eram fartos e clarinhos. Dois peitinhos cor de rosa lindos de morrer. A bunda era arrebitada, durinha, musculosa e lisinha. O corpo eu já conhecia porque ele vivia sem camisa (eu, metido a babaca professor nunca tinha prestado atenção nos peitinhos dele). O culhões dele não eram grandões como o do Tobias, mas eram grandes. O pau, as bolas e o saco. Ele se ensaboou forte. Inclusive limpou o pinto, coisa que eu não vi porque ele virou de costas para mim. Quando acabou saiu ainda pelado e sem se enxugar vestiu a sunga e a bermuda. Eu fiquei olhando aquele fenômeno da natureza. Não conseguia dar uma palavra. O Tobias lá da cama dele notou e disse, falando baixinho e ainda ofegante: “Não liga, Aylton, o Anjinho está se mostrando para voce.” Eu fiquei calado e o lourinho mandou um: “Não fode, Tobias.” Com o moleque na sala eu resolvi dar umas férias na turma (o que todo o mundo, inclusive os meus amigos, adorou). Então ficamos os três lá, cuidando do Tobias. O Marcinho, meu namorado, resolveu ajudar e comprava comida e trazia todos os dias. Trazia também muda de roupa para mim e eu tomava banho no banheirinho. Aprendi a fazer a barba sem espelho durante o banho. Assim eu via o Anjinho pelado, o Tobias pelado. No Tobias o Anjinho e eu dávamos banho de gato, isto é, banho com um pano esfregando nele. No começo não, mas depois o próprio Tobias não deixava ninguém limpar a bunda nem o pintão dele (a bunda ele deixava o Anjinho limpar, mas só quando ele cagava, depois quando ele já podia ir andando até o banheiro nem isso). Essas coisas todas eu, com um esforço de cavaleiro cruzado, fingia não notar, mas o viadinho do Marcinho dava bandeira e não tirava os olhos do Tobias.

Um dia em que estávamos o Anjinho e eu sentados na soleira da porta da salinha e o Tobias dormindo, eu, como quem não quer nada, perguntei: “Anjinho, voce e o Tobias já transaram?” Ele primeiro não respondeu e eu insisti. Então ele dando de besta: “Transaram como?” E eu: “Transaram, fizeram sacanagem um com o outro. Responde legal. Não dá de inocente porque eu sei que voce já sacou que o Marcinho e eu transamos porque a gente é namorado.” Ele ficou olhando para o vento durante uns minutos e aí respondeu: “A gente faz sacanagem um com o outro desde que a gente era molequinho. A gente chupa o pau um do outro, bate punheta um no outro. E eu: “Esporram um dentro da boca do outro?” E ele: “Isso não porque é nojento.” E eu: “E por na bunda?” E o moleque: “Isso eu não topei porque tenho cagaço do caralhão do Tobias. Assim se eu não deixo ele por na minha não peço para por na dele.” Nessa hora o Tobias acordou e chamou o Anjinho, de modo que o papo ficou por aí. Passaram-se uns dias. Uma noite em que estávamos o Anjinho e eu sozinhos e o Tobias dormindo eu falei para ele: “Voce gostaria de um dia transar com o Tobias num lugar legal, numa cama legal, com um banheiro legal, toalha felpuda, sabonete cheiroso e tudo o mais?” E ele sem dar tempo para mais nada: “Onde?” E eu: “Na minha casa.” E o Anjinho: “Mas voce mora com o Marcinho e esse negócio de foder a quatro eu não topo porque eu acho escroto.” E eu: “Ninguém vai foder a quatro. Cada casal no seu quarto porque na minha casa tem dois quartos e dois banheiros. Ia ser o Marcinho e eu num quarto e vocês no outro.” E arrematei: “Se ninguém gemer nem fizer esporro quando goza, não vai se saber que tem mais gente no apartamento.” Ele só respondeu: “Pode ser legal, deixa eu perguntar para o Tobias se ele topa.” E eu dei o papo por encerrado dizendo: “Quando voce falar com ele diz que vai rolar pizza até não poder mais.” E ele: “E um baseadinho?” Eu respondi sério pra caramba: “Isso nunca porque quem acha escroto sou eu.” Não se tocou mais no assunto.

O Tobias ficou completamente curado e voltou para a casa dele. O Anjinho a mesma coisa. As aulas do grupinho de musica voltaram a ser dadas. Já estávamos ensaiando o concerto de Natal quando eu arranjei uma televisão merda e um aparelho de DVD e passei para eles e para um monte de gente da favela que quis assistir, um documentário sobre os garotos da Venezuela chamado “Viver e Lutar” Quando acabou eles estavam emocionados, vários chorando inclusive, quando o Anjinho disse para mim: “Esses caras são muito bons, Aylton. Nós nunca vamos ser como eles.” Eu respondi: “Não esquece que eles começaram como um grupinho como o nosso. Isso tem um tempão e eles são realmente ótimos, mas não nasceram assim. Isso exigiu muito esforço e muita dedicação. De todos, dos moleques e dos professores.”

Passou-se um tempinho e o lourinho um dia disse para mim: “Falei com o Tobias e ele topou.” Eu estava desligado e não saquei de primeira: “Falou o que?” E ele: “Aquele negócio da gente foder na sua casa.” Eu respondi: “Então tudo bem. Vamos combinar o dia. Sábado que vem rola?” Ele respondeu: “Rola. Diz aí. Não tem perigo de dar merda e a gente ficar falado?” Eu respondi: “Não grila, não tem perigo nenhum. Garanto. Sábado às sete da noite eu estou esperando vocês lá embaixo no meu carro. E assim se deu. Quando eu cheguei estavam os dois todos bonitos, de bermuda limpa, tênis lavados e ambos vestindo a camisa do... (não vou dizer o time deles que é o mesmo meu e pode alguém de time inimigo ler esse conto e querer sacanear). Eles entraram e ficaram calados, muito sem jeito os dois. O Anjinho sentado do meu lado e o Tobias atrás. Chegamos no meu prédio e eu parei o carro na garagem. Fomos para o apartamento. Quando entramos e o Marcinho estava esperando pela gente e mandou, na maior simpatia: “E aí, moçada. Vão entrando.” O nosso apartamento é uma graça, super bem decorado porque o bom gosto do Marcinho é foda, ele tem até tem uma tia que é decoradora. Os garotos ficaram loucos. Pegavam nas coisas e examinavam, mas não fizeram zona. Ficamos os quatro de papo. Os quatro não, os três, porque a maior parte do papo foi futebol, do qual o Marcinho, que pensa que a é bola quadrada, não participou. Comemos pizza pra caramba. Tomamos refrigerante até não agüentar mais. Não rolou bebida alcoólica, para desespero do Marcinho que é chegado, muito chegado, aliás, numa cerveja. Até que numa hora eu fui la dentro e chamei os garotos. Eles foram e eu abrindo a porta disse: “Esse é o quarto de vocês.” E empurrei os dois para dentro dizendo: “Não tem hora para acabar. Se encherem o saco vão para a sala e fiquem por lá esperando a gente. Fiz o mesmo com o Marcinho. Fodemos pra caramba, com o tesão aumentado imaginando o que o Tobias e o Anjinho estariam fazendo. Depois ficamos conversando um pouco e o Marcinho mandou: “Aylton, voce está amarradão no lourinho.” Eu falei: “Não fala babaquice, Marcinho.” E ele: “Só não vê quem não quer. Voce olha tanto para o moleque que seu olho um dia ainda vai sair da órbita.” Pela manhã eu levantei e a porta do quarto deles ainda estava fechada. Meti uma bermuda e fui fazer café e o Marcinho também levantou. Daí a pouco os dois apareceram. Arrumadíssimos, de banho tomado, o cabelo molhado penteado para trás (o do Anjinho certamente grudado com cuspe porque pentear para trás aquele cabelo crespo dele deve ser foda). Com um sorriso que ia de orelha a orelha. Tomamos o café e eu levei os garotos na favela.

Eu estava apaixonado pelo Anjinho. Pensava nele dia e noite. Tinha tesão no Tobias, não tenho como negar isso porque o moleque era gostoso mesmo e tinham aqueles culhões de que eu não tinha esquecido. Mas amar, amar mesmo era o lourinho. O puto, esperto que só ele, não falava nada, mas sempre fazia alguma coisa meio dúbia, tipo, esfregar o braço no meu, se abaixar com aquela bunda divina virada para mim, e coisas que tais. Uma dia eu chamei ele: “Anjinho, eu amo voce.” E fiquei esperando. Ele olhou para mim com aqueles olhos azuis lindos: “Voce está dizendo que quer foder comigo?” Eu respondi: “Quero foder, claro, mas é muito mais do que isso. Eu amo voce, quero voce para toda a vida. Quero que voce seja meu e eu quero ser seu. Para toda a vida, escuta bem, para toda a vida.” E ele, continuando a me olhar fixo: “E o Marcinho?” E eu: “E o Tobias?” E o lourinho: “Eu e o Tobias gostamos muito um do outro, mas não rola amor entre nós. Eu acho mesmo que ele está ficando com tesão na Luzia. Ele não é problema, mas o Marcinho é porque ele é seu namorado.” Eu respondi: “Eu disse que te amava. Se voce me der um retorno igual eu falo com o Marcinho.” Ele então disse: “Eu amo voce, e não é de hoje. Apenas respeitei o seu namorado porque eu acho ele um cara legal. Mas amo voce sim, pra caralho. Toda a noite eu bato uma pensando em voce.” E desandou a rir. Eu perguntei: “De que voce está rindo? E ele, às gargalhadas, segurando a barriga bem como moleque: “Pensando também que aquela corneta que eu sopro é o seu pau que eu estou soprando.”

Resolvi o meu caso com o Marcinho. Muito choro e coisa e tal mas nos separamos relativamente como amigos e ele voltou para a casa dele. Aí fui no Anjinho: “Carinha, estou livre. Quando é que voce topa estrear o nosso amor?” E ele, imperturbável: “Agora se voce quiser.” Claro que minha vontade foi mandar um beijo nele naquela hora mesmo, mas me segurei e disse: “Na sexta quando eu descer voce vai descer comigo. Leva roupa que a gente vai ficar junto o fim de semana inteiro.” E assim aconteceu. Quando chegamos no meu apartamento estávamos meio sem jeito, sem saber o que fazer um com o outro. Numa hora em que eu fui na cozinha ver um troço ele entrou no meu quarto e foi no armário para ver se tinha alguma coisa do Marcinho lá dentro. Voltou e nos encontramos na sala. Ele se aproximou de mim e me encostando na parede mandou um beijo de língua. Um puta beijo, gostoso pra caramba. Ficamos nos beijando. Eu segurava no pau dele sobre a bermuda. Ele começou a fazer o mesmo no meu. Eu tirei a camiseta dele e caí de boca nos peitinhos dele, depois fui descendo até o umbigo e subi de novo para os peitinhos que aí já estavam durinhos. Ele gemia e enfiava os dedos dentro dos meus cabelos. Tentei abrir a bermuda dele, mas ele segurou a minha mão dizendo: “Espera. Não quero dividir a cama em que voce transava com o Marcinho.” Eu na mesma hora: “E eu não quero dividir a cama em que voce fodeu com o Tobias.” Ele pensou um segundo: “É. Isso é babaquice minha. Mas vamos para o outro quarto, por favor.” E eu, derretendo de amor, falei: “Como voce quiser, minha vida.” Entramos no quarto. Nos beijamos novamente de pé, depois eu me sentei na cama e deixei ele em pé e comecei a abrir a bermuda dele. Apareceu uma sunga vermelha, através da qual eu via aparecer a umidade da melação. Punhetei o pau dele por sobre a fazenda. Aí arriei a sunga dele. O pau dele saltou durão. Era um cacete lindo. Cacete de adolescente, lisinho, sem uma veia. Grande, quase do tamanho do do Tobias. Uma pele comprida cobria a cabeça. Puxei a pele para trás e meti a cabeçorra na boca. Ele deu uma tremida e um ‘ahhhh!’. Enfiei mais o pau dele na minha boca. O gosto da pica do meu Anjinho era gostosa, a textura mais gostosa ainda. Tirei a boca do pau dele e enfiei a cara nos pentelhos dele. Ele cheirava a macho, mas cheirava também a sabonete, sabonete barato mas sabonete. A melação saia direto da fenda do pau dele. Segurei com carinho no saco dele, que abrigava duas bolas de respeito. Dei uma lambidinha ali e voltei para o cacete. Lambi um tempão com ele gemendo direto. Aí fui deitando na cama e puxando ele sobre mim. Ele afrouxou o corpo e veio. Quando estávamos juntos nos apertando forte ajeitamos nossas pernas e ficamos deitados ao comprido na cama, um sobre o outro, abraçados, nos beijando e lambendo nossos pescoços. Ele aí começou a descer a cabeça. Eu tenho um pouco de pelo nos peitos, muito pouco mas tenho. Ele puxava os pelos com os dentes, bem delicado. Depois caiu nos meus peitinhos que ele chupou um tempão, hora um, hora outro. Depois foi descendo. Não parou no umbigo mas meteu a cara nos meus pentelhos e ficou respirando forte e quente neles. Depois segurou no meu pau. Deus do céu! O Anjinho, o meu Anjinho, estava segurando na minha pica! Aí me imitou: puxou a minha pele para trás e meteu ele na boca. Meteu ele todo, até onde conseguiu. Eu tremia de tesão. Ele começou um vai e vem tesudíssimo. Eu estava com medo de gozar e esporrar na boca dele por causa daquela vez que ele tinha dito que beber porra era nojento. Assim fiz ele parar o vai e vem segurando a cabeça dele. Levantei o corpo e cai de boca no pau dele. Chupava que nem um desesperado e de vez em quando punhetava ele. E fui indo assim, até que ele deu uma tremida forte e falou alto: Vou gozar!!!” Eu não parei de chupar, enfiava o cacete dele cada vez mais fundo. De repente ele berrou e começou a esporrar. Ele esporrava muito. Encheu a minha boca de porra e ainda escorreu para fora. Uma porra gostosa pra caramba, grossona. Aí nem dei tempo dele pensar e cai na boca dele, dando um beijão. Ele correspondeu. Numa hora ele se afastou e disse baixinho: “Não precisava.” Imediatamente caiu de boca no meu pau e ficou fazendo vai e vem até que eu gozei. Gozei na boca do Anjinho enquanto urrava: “Te amo. Te amo, meu amor, minha vida.” Ele aí veio na minha boca, com porra nos lábios dele e mandou um beijo lindo, lindo, cheio de amor e tesão. Depois fizemos muita sacanagem, muita mesmo. Eu acabei comendo ele e ele a mim. Eu cuidei de não machucá-lo, mas ele não teve tanto cuidado assim e acabou que ele me arrebentou o rabo com aquele pausão adolescente dele. Fodemos de camisinha, o que a gente hoje não faz mais.

O Anjinho nunca mais voltou para o morro. Eu também não. Por amor a ele deixei a obra de assistência social. Nunca mais vi o Tobias, mas sei que ele casou com a Luzia e que ela é um mulatão de respeito que até aparece na televisão. Hoje eu tenho a minha própria empresa de consultoria de informática, enquanto que o Anjinho freqüenta o último ano de economia. Outro dia dei a idéia da gente começar um trabalho social numa favela. A frase dele resumiu tudo: “Tudo bem desde que não tenha lá garoto pobrinho e bonito...”

FIM

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Comentários

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Velho amei seu conto, eu não gosto de ler contos muito grandes mais eu amei. Eu fico só imaginando como deve ta o anjinho hoje em dia kkkk deve ta um tipao hein kkkk mais enfim, gostei muito do conto, e espero que vocês sejam muito felizes ^-^

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Mais um ótimo conto! Essa orquestra não é a do Gustavo Dudamel? Pow, já vi um monte sobre eles, mas não sabia do filme. Vou procurar.

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Cara, vou te contar...geralmente não leio contos muito longoa, pois são sempre a mesmice do deita e rola, mas esse seu...não consegui parar de ler. Escreve bem pra cacete! Parabéns!

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Interessante, um vocabulário bem popular, mas e história em si é muito bonita.

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