O Primeiro Olhar

Um conto erótico de anaclau
Categoria: Homossexual
Contém 2148 palavras
Data: 28/06/2004 12:47:53

Era mes de marco. Eu havia acabado de entrar para a universidade. Os dias que antecederam ao vestibular foram de muito stress. Atraves de um amigo, meu pai comprou esta mesa de sinuca a qual me ajudou a aliviar a tensao. Fizemos ate mesmo um tonreio entre os tios , primos e meus irmaos. Eu, bom, era a unica mulher a participar desta competicao e diga-se de passagem, cheguei a final enfrentando uns dos meus tios. Resultado: segundo lugar.

Como minhas aulas seriam no campus, a unica solucao era enfrentar as corridas de onibus. Eu pegava dois: o primeiro de minha casa ate a praca universitaria, no centro, e o segundo da praca ate o destino final. Uma hora de percuso no total. Estava ainda comemorando meus 18 anos quando enfrentei o primeiro dia. Acordei cedo, tomei aquele banho e um segundo banho: de perfume. Adoro estar perfumada! Tomei café da manha com minha mae e minha avo que morava conosco. As duas como sempre comentando das dores que cada uma sentia. Era uma disputa pra saber quem estava mais doente ou dolorida. Sempre ri muito disto, mas uma risada interior pois, claro, nao poderia ofende-las.

O primeiro onibus passou rapido. Ja tinha uma nocao do horario que passaria pelo meu ponto. Cronometei dias antes com este meu modo de adiantar ao maximo que posso as coisas. Ate mesmo com horario, sempre fui muito pontual.O segundo onibus tambem passou na hora prevista, e o que foi melhor, vazio.

Eu estava nervosa, ao mesmo tempo sonhando acordada. Imaginava a cara dos professores, dos meus colegas. “Sera que vou gostar deles?” Seriam filhinhos de papai? Nao, acho que nao afinal, o curso de Radio e Televisao era recente, apenas 2 turmas formadas.”

Viajando com meus pensamentos nem percebi a super lotacao do onibus e nao haviamos nem chegado a metade do caminho. Porem, muitos iam descer na praca universitaria onde grande parte da populacao estudantil se concentrava.

Eu sempre gostei de sentar na parte de tras de todo e qualquer onibus e neste meu primeiro dia eu estava bem perto da porta de saida, com uma visao clara das pessoas que entravam pela frente .Foi quando o onibus parou mais uma vez e com ele meus pensamentos. De repente , sem aviso nem por que, no meio daquela multidao esprimida tentando conquistar espacos, meu olhos se deparam com uma unica e exclusiva pessoa.

Foi como eu tivesse levado um choque e por minutos sido paralizada. A viajem agora era outra. Nao havia som, palavras, gritos, gemidos, empurroes, nada, nada acontecia. Pra mim, tudo em volta parou.

Segunda parte ....

Por que quero oferecer meu assento a ela que ainda esta na parte da frente do onibus, mas tao perto em meus sentidos?

E por que ela me olha assim? Sera que eh porque olho pra ela?

Nossa, olhos verdes, da cor de uma esmeralda!

Uma mulher! Meu Deus, minha nossa Senhora da Aparecida, da onde surgiu esta mulher e para onde estou indo nesta viagem?

Perguntas que nao saiam dos meus pensamentos ao mesmo tempo em que meus olhos nao conseguiam desviar dos dela. Um minuto, dois, tres? Nao sei, mas nao foram segundos com certeza! Perdi a audicao, o olfato, e acho que nem mesmo respirava. Foi quando entao seus olhos foram desviados e seu rosto tapado por outras cabecas que se colocavam entre nos! E agora sim, num segundo parece que os deuses me tiraram do “pause; apertaram a tecla play, e aumentaram o volume. E foi tao rapido que cheguei a ouvir uma “microfonia”, o que me fez tapar os ouvidos. Na verdade, era a intencao que tive de segurar minha cabeca, sacudi-la e ver se as coisas voltavam ao lugar, pois era muito louco, novo, desconhecido, desconhecida, e tudo que nao faz parte do nosso cotidiano, da nossa rotina, da nossa concepcao familiar e social, assusta, intriga, ameaca e apavora.

Olhei para fora tentando me acalmar e convencer meus olhos a nao se dirigirem a aquela pessoa. Mas como nao? Agora havia a curiosidade de conhecer seu rosto, seus cabelos, seu corpo por inteiro e seus olhos, mais uma vez, por que nao? Ninguem estaria notando mesmo. Eu estava sozinha no meio daquela multidao, nao conhecia ninguem e afinal, era meu primeiro dia na universidade, quer dizer: tudo eh novidade!

Entao..virei minha cabeca na intencao de procura-la. Nem foi preciso fazer qq tipo de esforco. A peguei olhando pra mim e mais uma vez meus olhos se entregaram a ela. Nao houve sorriso, e nem um gesto se quer.

Desviou de mim, mas nao me intimidei e continuei, agora desvendendo seus cabelos castanhos na altura dos ombros, a pela morena como se tivesse pego o bronzeado no final de semana, o rosto meio que arredondado, uma pinta perto dos labios.

E assim seguimos a viagem toda, olhando e desviando , muitas das vezes fazendo de conta que “nao eh comigo”. Impossivel nao ser!

Chegando ao campus, meu ponto era mais uma vez o primeiro. Triste! Queria descer junto, talvez segui-la, procurar uma desculpa e puxar assunto. Mas corajem para abordar as pessoas nunca foi meu forte. Entao, me restou dar um enorme sorriso ao ver o onibus partir, e dizer a mim mesma: bem-vinda a universidade! Acho que vou gostar muito disto!

Os dias iam passando, assim como os onibus, e eu nao perdendo um sequer. Tinha de ser o daquele horario, nem mais cedo, nem mais tarde. Sentada sempre na parte de tras, aguardando a chegada dela, que nunca veio pra perto de mim. Nossos encontros eram a distancia e os olhares, ah! Aqueles olhares! Tao profundos, contagiantes, um vicio impossivel de se largar. Eram minhas inspiracoes, meu café-da-manha, meu dia, minhas noites de paz e sonhos maravilhosos. E assim foi se confirmando esta cumplicidade natural, sem palavras, nem contrato, ou mesmo perguntas. Era um gostar de estar ali , sempre no meio da multidao, mas sozinhas, num ritmo sem som apenas olhares. Somente meus olhos de encontro aos dela.

Passaram-se quase 30 dias. Ja me acostumava com os colegas de classe, todos mais velhos do que eu, maiores de 21 anos. Logo me aproximei deste rapaz, o Ed, que me parecia ser bem simples, nao era metido a besta, muito menos fazia o estilo machao. Convresavamos em um dos intervalos sobre paixoes, amores. Ele acabou se declarando por mim, dizendo que “me notou” desde o primeiro dia , que nao consguia deixar de me olhar durante as aulas. Expliquei que sentia muito por nao corresponder com o mesmo sentimento, mas que tinha um carinho muito grande pela pessoa dele.

Nossa, como os homens foram bem treinados meu Deus! Faz parte da natureza deles este saber que podem dizer o que quizerem , ate mesmo levar um Nao bem grande e mesmo assim nao perderem o rebolado e continuarem as conquistas. Ah, como eu gostaria de ter tido este treinamento, esta coragem e poder me expressar, expor meus sentimentos a ela!

Em funcao desta conversa senti que era a hora de tomar algum tipo de iniciativa e nao se contentar apenas com os olhares. Contudo, se eu me abrisse e ela dissesse um Nao, me chingasse, viesse com a famosa frase: ta me estranhando eh?! Quem voce pensa que sou?! Dai nao teria mais a conexao, a fantasia, as manhas ensolaradas, as noites tao bem dormidas qdo ela aparecia para me visitar meus sonhos.

Risco, tudo era uma questao de arriscar. Estar preparada para tudo ate mesmo para a possibilidade de um ”sim”. Ai! Mas tinha o “nao” e era ele que me amendrotava. Um simples Nao: monossilabo, adverbio, substantivo masculino. Ta vendo, eh isto! Por ser um substantivo masculino os Homens se sentiam a vontade, pois muitas vezes era uma coisa de homem pra homem. Que isto?!! Ja estava me sentindo uma ignorante por estar brincando com as definicoes do Aurelio, e com esta de “ nao (homem) pra homem” . O negocio era tomar coragem e uma atitude. Mesmo que nao desce em nada, uma coisa ela nao poderia negar: havia uma conexao! E mesmo assim eu continuaria a procurar seus olhos e me abastecer daquela energia matinal.

Terceira e ultima parte ....

Risco, tudo era uma questao de arriscar. Estar preparada para tudo ate mesmo para a possibilidade de um "sim". Ai! Mas tinha o "nao" e era ele que me amendrotava. Um simples Nao: monossilabo, adverbio, substantivo masculino. Ta vendo, eh isto! Por ser um substantivo masculino os Homens se sentiam a vontade, pois muitas vezes era uma coisa de homem pra homem. Que isto?!! Ja estava me sentindo uma ignorante por estar brincando com as definicoes do Aurelio, e com esta de " nao (homem) pra homem" . O negocio era tomar coragem e uma atitude. Mesmo que nao desce em nada, uma coisa ela nao poderia negar: havia uma conexao! E mesmo assim eu continuaria a procurar seus olhos e me abastecer daquela energia matinal.

Peguei o primeiro onibus, e a todo instante dizia a mim mesma "vou falar algo, puxar convesa". Quando cheguei no segundo ponto notei uma quantidade enorme de pessoas que esperavam pelo mesmo. O onibus veio cheio. Pensei duas vezes antes de entrar. Se eu pegasse o proximo poderia chegar atrasada na aula, e acima de tudo nao encontra-la. Anciosa que sou, entrei neste mesmo e me sentei na parte de tras, so que desta vez, em cima do motor ja que nao havia nenhum assento livre. Poderia ficar de pe, mas sentando ali, tinha uma visao mais ampla. Perfeito!

Porem, o onibus foi enchendo e enchendo a cada parada. Me preocupei. Ela nao teria como entrar se estivesse com lotacao esgotada. Talvez nem mesmo fosse parar no ponto dela. E o desespero foi tomando conta dos meus pensamentos. Um colega entrou pela porta de tras sem pagar ( o motorista nao tinha como reclamar ou mesmo ver). Ofereci pra segurar a pasta dele. O proximo ponto era o dela. Se meu coelga entrou ela tambem poderia fazer o mesmo. Porem, ela nao estava la. Pela primeira vez, faltou ao encontro

Indagava o que teria acontecido. Talvez estivesse doente, viajando, talvez tivesse pego uma carona ja que o onibus estava atrasado.Tantas possibilidades e uma unica certeza: meu desapontamento.

O povo ia se acotovelando para conseguir espaco, e o onibus parando a cada ponto. Um absurdo! Lotacao esgostada e pessoas ja comecavam a se pendurar pela porta.

Eu estava perdida em meus pensamentos, em minha tristeza de ter preparado uma atitude e ela nao apareceu. Talvez fosse um sinal de que nao era a hora certa, ou mesmo que nao deveria fazer nada e deixar como estava. Viajando tanto com estes questionamentos nem percebi que meu colega tentava segurar alguem que literalmente se pendurava pela porta de tras do onibus. Ele me pediu que o segurasse pela cintura enquanto ele esticava os bracos para a moca. Quando o segurei e levantei meus olhos para presenciar seu ato de ajuda, veio o choque!

Meus olhos foram de encontro aos dela, que estava ali, pegando o onibus em outro ponto e agora se pendurava pela porta. Alertei meu colega a segurar firme e subitamente, com uma forca fenomenal , puxei os dois para dentro criando um espaco extra pra ela bem a minha frente. Alias, com o impulso, ate mesmo as outras pessoas que estavam penduradas conseguiram entrar e, a porta, finalmente se fechou depois de varias tentativas sem sucesso do motorista.

Meu colega virou-se e disse : nao eh a toa que gosto de mulheres fortes e com atitudes". Mal sabia ele!! Eu sorria gostoso, enquanto as pessoas diziam "obrigado", "valeu", "isso ai". Entao procurei por ela que continuava ali, a minha frente e seus olhos de encontro aos meus.

Quando ela entao comecou a mover os labios para dizer algo, olhando e sorrindo pra mim, noto que um rapaz alto a abraca por tras, pela cintura, e tomando sua vez diz: "obrigado pelo empurrao garota. Nao queria que meu amorzinho se machucasse estando pendurada na porta".

A expressao de felicidade estampada em meu rosto sumiu instantaneamente. Ele logo comecou a beijar e fazer carinho em sua nuca. Olhei de novo pra ela que retribuiu meio que sem jeito, meio que pedindo desculpas. Foi entao que respondi: "de nada, disponha!". Ela ( acho que gostou da minha voz.) disse: "Obrigada mesmo"! E sorriu aquele sorriso maroto!

Depois deste episodio procurei saber quem era esta cumplice dos meus olhares. Descobri ate mesmo o que nao queria: estavam de casamento programado para o final do ano, apos a formatura deles.

A partir de entao, decidi nao pegar aquele onibus para nao mais encontra-la. Porem, todas as vezes em que entrei e passei pelo ponto dela, nunca deixei de lembrar e reviver aqueles momentos tao lindos, sublimes e de uma pureza delirante! Por tantos dias, meses e ate mesmo anos, jamais esqueci do nosso primeiro e infinito olhar!

beijos mil

boas vibracoes....

anaclau

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Comentários

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Olha posso dizer p vc q vc arrasou,nota 1000!

escreves muito bem!

E 10 por falta de nota maior

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gostei muito nao desanime que voce vai encontrar o grande amor da sua vida bjsss

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